Com a professora no festival da Amadora antes de estudar BD na escola

Festival de BD da Amadora termina este domingo e Nuno Saraiva será um dos artistas na próxima edição.

Fotogaleria
Zombie de Marco Mendes Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Exposição central: Hergé, Hugo Pratt e Moebius Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Lucky Luke - 70 anos Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Democracia de Alecos Papadatos e Abraham Kawa Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Papá em África de Anton Kannemeyer Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Daqui Ninguém Passa de Bernardo Carvalho Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Exposição dos trabalhos do Concurso Nacional de Banda Desenhada e Cartoon Rui Gaudêncio

Entrar no Fórum Luís de Camões, durante a semana, é encontrar uma visita de estudo em cada exposição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, que assinala este ano a sua 27.ª edição. No coração da Amadora BD, Gonçalo Alves, com os olhos presos a cada quadradinho, tira fotografias a tudo. “O tema é muito interessante, mais até do que no ano anterior”, afirma convicto este estudante do 7.º ano da Escola Secundária Fernando Namora, na Brandoa, que já vem ao festival desde os oito anos e se declara fã de Tintim. Margarida Abelha, sua colega, concorda. “Está muito bem feito. Estou a gostar”, diz a admiradora de Batman.

Estão ambos na exposição retrospectiva de Zombie, do português Marco Mendes, o autor em destaque desta edição, e onde a Amadora BD começa. Mas não se pense em histórias de terror (ou talvez sim). Os temas de Zombie são a precariedade, a emigração por falta de oportunidades, a praxe académica. O álbum de Marco Mendes, de carácter autobiográfico, é sobretudo uma reflexão sobre o quotidiano e a sociedade actual.

Mais à frente, é a escola básica de 2.º e 3.º ciclo D. Pedro IV, de Queluz, que encontramos. “Já vimos muita coisa”, afirmam Beatriz Almeida e Beatriz Martins, do 8.º ano. Impressionaram-se com as exposições menos infantis “por serem uma crítica à realidade”. Como outros alunos da escola, nunca tinham ido ao festival, apesar de gostarem de banda desenhada. “Para nós, crianças, às vezes é mais fácil ler assim do que só textos!”

Na turma, os gostos relativamente a autores e heróis variam. Só há uma constante: a maior parte diz que aprendeu a gostar de banda desenhada com os pais, que liam Mafalda ou A Turma da Mónica, entre outros. Clara Teixeira, professora de Educação Visual que acompanha a turma, acha a exposição bastante diversificada. “Abrange todas as partes que constituem uma banda desenhada. Por exemplo na exposição central temos o quadradinho, a elipse… Está bem feito e achei importante trazê-los, já que vamos estudar a banda desenhada no segundo período".

Espaço, tempo e um cowboy que faz 70 anos

No mesmo piso, segue-se a exposição central, dedicada ao espaço e ao tempo na banda desenhada, com três autores em destaque: Hergé, Hugo Pratt e Moebius. O tema foi sugestão da Trienal de Arquitectura, que apoia a Amadora BD. “A ideia é dar uma perspectiva mais alargada destes dois conceitos. Não ser uma exposição de arquitectura e banda desenhada, mas sobre espaço e tempo”, diz Eduardo Côrte-Real, comissário da exposição juntamente com Susana Oliveira.

Os comissários dividiram-na a exposição em categorias. A primeira é o início de uma banda desenhada. “Os primeiros momentos dizem logo: isto passa-se aqui nesta época. Chamamos a isso o establishing shot”, afirma Susana Oliveira. Sobre a escolha dos autores, é Côrte-Real que explica. “São três autores de referência. Hergé é uma percepção clássica do tempo e do espaço, separado-os; Pratt é uma percepção moderna, que mede e relaciona as duas categorias; e Moebius é o contemporâneo, em que espaço e tempo são a mesma coisa”.

Lucky Luke, o cowboy mais rápido do que a própria sombra que já faz 70 anos, é outro protagonista do festival, que teve na sexta-feira o lançamento mundial do novo álbum A Terra Prometida. Para Nelson Dona, na direcção do festival desde 1999, há ainda outra razão para a exposição de homenagem. “Morris, o criador de Lucky Luke, foi o primeiro convidado internacional da Amadora em 1990. Era para ser apenas uma pequena iniciativa de homenagem a artistas e personalidades da Amadora, mas ao vir o Morris o evento teve uma projecção mediática extraordinária e abriu portas para a sua internacionalização".

Entre o mundo das crianças e a crítica social

No piso inferior, um dos destaques é a exposição do Concurso Nacional de Banda Desenhada e Cartoon, cujo tema são os 50 anos da ponte 25 de Abril, onde existem trabalhos de criadores de todas as idades, e a exposição do Concurso Municipal de Banda Desenhada e Ilustração, com trabalhos de alunos de escolas de 1.º e 2.º ciclo da Amadora. Há outras exposições, como as dedicadas à ilustração de livros infantis em Portugal e no estrangeiro, com os premiados O Tempo do Gigante, do espanhol Manuel Marsol, e Daqui Ninguém Passa, do português Bernardo Carvalho. No mesmo piso, existe um atelier infantil onde as crianças criam as suas BD. “Há miúdos bem criativos, com mais imaginação do que eu!”, ri-se Gonçalo Serafim, da Amadora BD.

Mas a banda desenhada não é apenas para crianças: Democracia, dos gregos Alecos Papadatos e Abraham Kawa, e Papá em África, do sul-africano Anton Kannemeyer, mostram fortes componentes políticas e sociais por trás das vinhetas. Papá em África, por exemplo, não deixa de ser uma crítica ao racismo de Tintim no Congo. “Gostamos de levantar estas questões, que as pessoas se venham divertir com um Lucky Luke que faz 70 anos, mas também que tenham outro tipo de BD que as façam pensar sobre o que é a contemporaneidade”, diz o director.

A edição da Amadora BD termina este domingo, mas ainda não há números para a edição deste ano num festival que costuma rondar os 30.000 visitantes.

Sobre a próxima edição, Nelson Dona avança alguns detalhes. “Nuno Saraiva será um dos artistas em destaque para o ano, com a vitória este ano do prémio de melhor álbum português com Tudo Isto é Fado. Mário Freitas, que ganhou o prémio de melhor argumento, e Miguelanxo Prado, com o melhor álbum de autor estrangeiro, também serão artistas obviamente em destaque.”

Texto editado por Isabel Salema

Sugerir correcção
Comentar