Morreu Jean-Jacques Perrey, sorridente pioneiro da música electrónica

Nasceu em França e o seu destino seria, aparentemente, uma carreira na medicina. A descoberta de um antepassado dos modernos sintetizadores mostrou-lhe outro caminho. Admirado pelos Beatles, por Dr. Dre ou Luke Vibert, Jean Jacques-Perrey morreu aos 87 anos.

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Jean-Jacques Perrey DR
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Jean-Jacques Perrey com Dana Countryman, seu colaborador em anos recentes DR

Era suposto ter tido o ofício de médico e para o conseguir estudava medicina em Paris. Felizmente para nós, conheceu Georges Jenny, o inventor do Ondioline, antepassado dos modernos sintetizadores, criado em 1941. Resultado: a medicina foi rapidamente posta de parte e a música tornou-se a ocupação a tempo inteiro de Jean-Jacques Perrey. Música do futuro que levou a toda a Europa durante os anos 1950, tocando o Ondioline perante audiências surpreendidas com os sons produzidos pelo teclado.

Na década seguinte, encontrávamos Jean-Jacques Perrey em Nova Iorque, colaborando com um protegido de John Cage, Gershon Kingsley. Aproveitando as lições da música concreta e recorrendo à absoluta modernidade de sintetizadores como o Moog – usou o segundo sintetizador construído por Robert Moog -, Jean-Jacques Perrey tornou-se um dos grandes pioneiros da música electrónica. A sua obra seria samplada por músicos contemporâneos, como os Beatles (o Christmas Record de 1968 incluía um excerto de uma peça famosa de Perrey, Baroque Hoedown), e por “jovens” que descobriram na sua música matéria para novas invenções: os Beastie Boys baptizaram o seu álbum instrumental de 1996 The In Sound From Way Out! em homenagem ao álbum com o mesmo nome que Perrey e Kinglsey editaram em 1966, e Ice Cube, Dr. Dre, A Tribe Called Quest e os Gang Starr samplaram música sua.

Jean-Jacques Perrey, o pioneiro que anteviu o futuro, o criador de música atravessada pelo mesmo optimismo que o seu sorriso constante revelava em palco, morreu este sábado na casa que habitava actualmente na Suíça. Tinha 87 anos e não resistiu a um cancro nos pulmões. A notícia foi dada pela sua filha, Patricia Leroy, à Rolling Stone. “Jean-Jacques Perrey é uma lenda e estou agradecido por ter tido a oportunidade de ajudar a partilhar com o mundo a sua música bonita e edificante”, declarou à revista Carl Caprioglio, o fundador da actual editora de Perrey, a Oglio Records.

Hábil tanto no manuseamento dos novos instrumentos, como na manipulação de fita para criar novos sons e padrões rítmicos, Jean-Jacques Perrey estreou-se em álbum em 1957, ainda em França, com Prelude au Sommeil. Seria já em Nova Iorque, e ao lado de Gershon Kingsley, que ganharia protagonismo com a edição de álbuns como o supracitado The In Sound From Way Out! ou Kaleidoscopic Vibrations: Electronic Pop Music From Way Out, ambos preenchidos de música que transformava géneros reconhecíveis (a pop, a country, a música para bandas-sonoras) com a inventividade irrequieta de um Carl Stalling, o lendário criador das bandas-sonoras dos Looney Tunes.

Da sua amizade com Robert Moog, e com o acesso e fascínio pelo sintetizador por este inventado, resultariam uma série de álbuns na passagem da década de 1960 para a de 1970. Entre eles, sobressai Moog Indigo. Editado em 1970, é um álbum de funk futurista (ou de electrónica indefinida entre o pulsar orgânico e os sons sintéticos) que se tornaria clássico de culto –  E.V.A. seria samplada pelos Gang Starr em Just to get a rep.

Mais recentemente, destacam-se as colaborações com Dana Countryman, americano nascido em 1954, quando Jean-Jacques Perrey dava os primeiros passos na música (do encontro resultaram álbuns como The Happy Electropop Music Machine, em 2006, ou Destination Space, em 2008), ou com o britânico Luke Vibert (Moog Acid, assinado pelos dois, saiu em 2007).

Foi Dana Countryman, também autor de uma biografia de Perrey, The Amazing Life And Music Of Electronic Music Pioneer Jean-Jacques Perrey, que deixou no seu site uma sentida homenagem ao seu companheiro de estúdio e de palco na última década. “Se estivesse aqui hoje, não havia nada que Jean-Jacques gostasse mais do que pensar que os seus fãs estariam neste momento a tocar momento a sua música Moog louca, divertida e orelhuda – rindo, em vez de estarem tristes. O seu mote e a sua crença em quase todas as entrevistas era ‘continuem a sorrir e sejam felizes!’. Ele era o mestre da felicidade”.

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