O futebol chinês continua a apostar forte no topo da pirâmide

Marcelo Lippi e André Villas-Boas são as duas mais recentes aquisições para o futebol chinês, ambos com salários milionários.

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Depois da Rússia, Villas-Boas vai para a China Johannes EISELE/AFP

A China quer dar o seu “grande salto em frente” no futebol e tem um plano para que isso aconteça nas próximas décadas. Até 2050, de acordo com o plano traçado pelo presidente chinês Xi Jinping, que é um grande adepto de futebol, a China deverá ter 50 milhões de praticantes e ser uma nação de topo no futebol. Este plano ambicioso tem vários pontos e um deles passa por ter treinadores consagrados pagos a peso de ouro. Lippi, Scolari, Pellegrini e Magath, entre outros, já lá estavam. O português André Villas-Boas é o nome que se segue, interrompendo a prometida pausa sabática para ganhar no Shanghai SIPG um salário a rondar os 13 milhões de euros e que o coloca entre os treinadores mais bem pagos do mundo.

O português de 39 anos foge um pouco à regra do que têm sido as importações de técnicos para o futebol chinês. Geralmente são treinadores veteranos em fase adiantada de carreira que aterram na China – Luiz Felipe Scolari tem 67 anos, Felix Magath e Manuel Pellegrini têm 63, Gregorio Manzano tem 60, Jaime Pacheco tem 58. Marcelo Lippi até já estava reformado depois de ter passado três anos no Guangzhou Evergrande, mas, aos 68 anos, ainda aceitou o desafio de pegar na selecção chinesa e tentar uma quase impossível qualificação para o Mundial 2018.

Depois de Académica, FC Porto, Chelsea, Tottenham e Zenit, Villas-Boas salta assim do futebol europeu para o novo “El Dorado” do futebol mundial, um palco de exigência competitiva mais baixa, mas com objectivos bem definidos nas competições internas e continentais. “É um desafio diferente na minha carreira. O nosso objectivo vai ser construir uma equipa mais forte, que esteja pronta a competir em todas as provas. Mas, acima de tudo, trazer alegrias aos nossos adeptos com o campeonato chinês no próximo ano”, disse o técnico português, que sucedeu no cargo ao sueco Sven-Goran Eriksson e que vai reencontrar em Xangai o avançado brasileiro Hulk, com quem já coincidiu no FC Porto e no Zenit.

Marcelo Lippi, campeão mundial com a “squadra azzurra” em 2006, também vai ganhar um salário, acreditando nos números avançados pela imprensa internacional, a rondar os 20 milhões de euros por ano, o que o coloca como o técnico mais bem pago do futebol mundial. Mas será preciso bem mais que o conhecimento do experiente treinador italiano para elevar de imediato o nível de uma selecção que ainda só fez um ponto em quatro jogos na terceira fase da qualificação asiática e que ocupa o 84.º lugar do ranking FIFA.

Estas são as duas mudanças mais recentes no topo da pirâmide do futebol chinês, que, nos últimos anos, tem atraído alguns jogadores de topo. No mercado de transferências do último Verão, o antigo avançado do FC Porto Hulk foi do Zenit de São Petersburgo (tal como Villas-Boas) para o Shangai SIPG por 55,8 milhões, a terceira maior transferência do defeso, atrás de Paul Pogba (105 milhões) e Gonzalo Higuaín (90 milhões). No início de 2016, dois negócios da China destacaram-se, a transferência do colombiano Jackson Martínez do Atlético Madrid para o Guangzhou Evergrande por 42 milhões de euros, e a do brasileiro Alex Teixeira, do Shakhtar Donetsk para o Jiangsu Suning por 50 milhões. Nas próximas janelas de mercado, os negócios de dezenas de milhões devem continuar.

A verdade é que este investimento está a dar alguns frutos que, não sendo ainda visíveis do ponto de vista da evolução estrutural do futebol chinês (a aposta séria no futebol de formação continua por acontecer), mostram, pelo menos, crescimento no interesse dos adeptos. Entre 2014 e 2016, houve uma subida assinalável na média de espectadores nos estádios chineses, de 19 mil para 24 mil, sendo que o novo negócio das transmissões televisivas dos jogos da Superliga Chinesa atinge uns astronómicos 1,1 mil milhões de euros para os próximos cinco anos – a contar, não só com os 1,3 mil milhões de chineses, mas, também com o mercado internacional.

Daqui até ao domínio do futebol mundial ainda falta muito para a China, que tem a ambição declarada de organizar um Mundial de futebol no futuro. E nesse Mundial, que não será antes de 2030, terá de ter uma equipa competitiva e evitar o que aconteceu na única presença chinesa em Mundiais até agora – três derrotas em 2002. Para já, perde com países como o Uzbequistão ou a Síria, de nada valendo os milhões que se gastou a tornar o campeonato mais atractivo. Mas que os chineses gostam de futebol, disso ninguém duvida.

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