Filipe Cortez leva o antigo matadouro do Porto a Nova Iorque

Artista português inaugura em Nova Iorque a exposição "Ecdysis", em que explora a memória do antigo Matadouro de São Roque, no Porto

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Filipe Cortez nasceu no Porto Paulo Pimenta

O artista plástico português Filipe Cortez inaugura este sábado, no InCube Arts Space, em Nova Iorque, "Ecdysis", uma exposição que explora a memória do Matadouro Industrial do Porto, em Campanhã.

"O projecto nasce da ideia da ecdise animal, onde o corpo solta a sua pele antiga para dar espaço a um novo corpo/desenvolvimento, o mesmo [tipo de processo] que irá acontecer com o antigo Matadouro de São Roque, no Porto", explicou Cortez à agência Lusa. A exposição reúne uma série de peças em que Cortez, através de um método de moldagem, recolhe partes da fachada, paredes interiores e outros pormenores do antigo edifício, abandonado há duas décadas, que vai ser renovado em 2017 para acolher o Museu da Indústria.

"As camadas de latex contêm não apenas a forma e a textura da parede, mas também resíduos, pigmentos e outras marcas do seu passado. A manufactura de uma pele falsa reflecte a lógica das técnicas de taxidermia, em que um corpo é preservado para evitar o seu desaparecimento. O artista tenta preservar a memória do edifício antes da sua morte completa enquanto matadouro", explica a galeria em comunicado.

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O antigo Matadouro de São Roque, no Porto (2016) Filipe Cortez

Para Cortez, é "muito interessante" trazer algo desde a sua cidade para uma metrópole como Nova Iorque. "Numa cidade como Nova Iorque, em que os edifícios são demolidos constantemente e substituídos por outros, torna-se interessante levantar esta discussão sobre como manter a história de um lugar, criando algo novo e, ao mesmo tempo, sem apagar toda a sua existência e história", explica.

Cortez nasceu no Porto e licenciou-se em Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, a mesma escola em que terminou um mestrado em pintura. Nos últimos anos, a exploração de vários meios artísticos, como desenho, pintura, escultura, instalação e 'performance', tem-se tornado cada vez mais frequente no seu trabalho. Em Fevereiro do ano passado, fez numa residência artística em Nova Iorque, durante a qual teve oportunidade de se reunir pessoalmente com mais de 50 pessoas, desde curadores e críticos a galeristas, estando ainda a sair alguns projectos desta experiência. Cumpriu esta etapa, com "dinheiro poupado por mais de dois anos, sem qualquer tipo de apoio institucional ou privado, mesmo tendo enviado para cima de 40 cartas" com pedidos. "No entanto, sinto-me feliz com o investimento, e tem dado os seus frutos, sem dúvida alguma", garante.

Um dos resultados foi a sua primeira exposição individual nos Estados Unidos, na galeria Department of Signs and Symbols, em Nova Iorque. Com o título "Disenchantment", Cortez exibiu o trabalho efectuado durante a residência artística, em que criou uma série de "fósseis" de objectos abandonados, nas ruas de Nova Iorque. Em Março deste ano, teve a exposição "Out to see", em Nova Iorque, com um conjunto de peças que explora a história da zona portuária da cidade norte-americana. Torna a expor o seu trabalho em Portugal a 8 de Novembro, numa exposição colectiva com o título "O exercício e o corpo: dose e efeito", com curadoria de Teresa Oliveira Lacerda, na Reitoria da Universidade do Porto.

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