As eleições de 8 de Novembro

Esta, sem dúvida, é uma campanha eleitoral que não deixará saudades…

Nenhum dos principais candidatos à eleição presidencial nos EUA parece ser o ideal. Nunca o é, talvez... Mas num país com 320 milhões de habitantes, a potência mundial do século XX, ainda que com sinais de declínio no século XXI, face aos desafios internos e externos que enfrenta, careceria de um(a) candidato(a) presidencial com a estatura, visão e generosidade que raros presidentes dos EUA possuíram no passado.

Afigura-se que para muitos americanos, e para muitos cidadãos do mundo que, não votando, têm interesse no desenrolar das eleições do próximo dia 8 de Novembro nos EUA, o que está em causa nesta eleição é a escolha do “mal menor”.

Lawrence Lindsey, antigo professor da Universidade de Harvard, e secretário do Tesouro de George Bush, numa entrevista recente argumentou que a questão relevante não é essa. A questão relevante é qual o candidato mais perigoso, insinuando indirectamente que Hillary Clinton seria uma presidente mais perigosa do que Donald Trump.

Ontem, quase 400 economistas, entre os quais pelo menos um prémio Nobel, subscreveram uma carta aberta onde denunciam o programa de Trump e apelam ao voto em outro candidato. Referem que Trump desinforma o eleitorado e degrada a confiança nas instituições públicas. Notam ainda que entre outras propostas, Trump parece sugerir a eliminação do Departamento de Protecção Ambiental e do Departamento de Educação dos EUA.

Dezanove prémios Nobel, entre os quais Joseph Stiglitz, mas também economistas tidos por conservadores como Robert Lucas, numa outra carta aberta, dão o seu “forte apoio” a Clinton.

Mas claro, nisto das cartas abertas de economistas, encontramos também 305 economistas conservadores a denunciar a “agenda económica” de Clinton.

A eleição presidencial nos EUA tem uma certa semelhança com o referendo "Brexit” no sentido em que embora Clinton seja a favorita, a probabilidade de Trump surpreender com uma vitória eleitoral não deve ser negligenciada

Acresce a confusão e a incerteza causada pelos dois inquéritos, conduzidos pelo FBI, sobre o uso, por Hillary Clinton, de um servidor de e-mail privado para receber e enviar e-mails enquanto secretária de Estado dos EUA, em eventual violação das normas de confidencialidade. Hillary Clinton tem estado sob uma enorme pressão e o facto do director do FBI, James Comey, 11 dias antes das eleições, divulgar publicamente a reabertura do inquérito à candidata, está, segundo parecem indicar as últimas sondagens, a influenciar, de modo dramático, o processo eleitoral.

Por último, embora Hillary Clinton seja a candidata aparentemente mais forte, está a sofrer um forte e interminável ataque da wikileaks. Diariamente a wikileaks tem vindo a publicar alguns milhares de e-mails do John Podesta, o director da sua campanha eleitoral, planeando divulgar 50 mil emails até às eleições. Os e-mails revelam, entre outros assuntos, trocas de opiniões entre responsáveis da campanha e alguns VIPs e alguns e-mails, no mínimo, penosos, introduzem ruído e prejudicam a campanha de Clinton. Acresce que embora possa existir interesse público nessa divulgação, este deveria ser contrabalançado com o direito à privacidade e o direito à presunção da inocência dos referidos intervenientes.

Para a wikileaks, a estratégia de divulgação diária dos e-mails de Podesta foi brilhante, porque resulta num efeito multiplicador e amplificador da polémica. Mas a wikileaks, com esta acção, parece mostrar estar envolvida na campanha a 100%, assumindo-se contra Hillary.

Esta, sem dúvida, é uma campanha eleitoral que não deixará saudades…

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