Volkswagen vai investigar papel da empresa na ditadura no Brasil

O fabricante automóvel contratou historiador para clarificar o seu passado durante a ditadura militar brasileira.

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A Volkswagen é acusada de ter permitido a prisão e tortura de trabalhadores opositores ao regime militar, que durou de 1964 a 1985 Wikipedia

O fabricante automóvel Volkswagen anunciou esta quinta-feira que vai confiar a um historiador independente a investigação sobre o seu papel na ditadura brasileira, na qual a empresa alemã é acusada de ter colaborado.

“Queremos lançar luz sobre o período sombrio da ditadura militar [de 1964 a 1985], assim como dos responsáveis da época [da Volkswagen] no Brasil e, possivelmente, também na Alemanha”, afirmou através de um comunicado a directora jurídica do grupo, Christine Hohmann-Dennhardt.

Os responsáveis da empresa escolheram o historiador Christopher Kopper, professor da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, para o fazer.

“Vamos estabelecer o papel da empresa durante a ditadura militar no Brasil, com a perseverança e a consistência necessárias, da mesma maneira que fizemos de maneira célere e exaustiva em relação a temas como o passado nazi e à utilização de trabalho forçado”, afirmou Hohmann-Dennhardt.

Antigos funcionários e activistas apresentaram uma queixa em Setembro de 2015 no Brasil, acusando a Volkswagen de permitir a perseguição e tortura aos trabalhadores opositores do regime militar. De acordo com a acusação, 12 trabalhadores foram presos e torturados na fábrica de São Bernardo do Campo, localidade dos subúrbios de São Paulo. A empresa é também acusada de ter criado “listas negras” de opositores.

No mesmo comunicado, o fabricante alemão informou que procura um novo director para o departamento de comunicação histórica, depois de a recente saída do último responsável ter causado polémica na Alemanha. Manfred Grieger, historiador especialista em trabalho forçado durante o período nazi, trabalhou na Volkswagen durante quase 20 anos, tendo apresentado a sua demissão no final de Outubro.

Grieger criticou publicamente um estudo interno sobre o passado nazi da Audi, que faz parte do grupo Volkswagen, afirmando que o mesmo era incompleto e que minimizava os factos. Segundo a agência de notícias alemã DPA, a sua saída esteve ligada a um reprimenda da direcção pelo facto de o historiador ter feito declarações públicas sem autorização.

Na passada terça-feira, vários historiadores de renome na Alemanha atacaram a Volkswagen acusando o grupo de divulgar uma história tendenciosa sobre o seu passado. Uma crítica rejeitada pelo fabricante automóvel que, numa resposta por escrito enviada esta quinta-feira à AFP, diz “lamentar a má interpretação”.

A Volkswagen esclarece ainda que Grieger “não foi demitido” nem “forçado a sair da empresa. “O facto é que a Volkswagen tem, ao longo do tempo e de maneira decidida e honesta, lançado luz sobre a história da empresa e continua a fazê-lo”, refere.

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