Por que é que há canções que se colam à nossa cabeça durante um dia inteiro?

Uma equipa de cientistas procurou a resposta e diz que são geralmente canções com andamento rápido, uma forma melódica vulgar, mas intervalos e repetições incomuns. A campeã actual destas "canções pegajosas" é Lady Gaga.

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Lady Gaga tem três canções na lista elaborada pelos investigadores Reuters/TORU HANAI

Estamos descansados a pensar na vida, ou descansados da vida no chuveiro, e a cabeça é invadida pelo som de uma canção, aquela canção, a da melodia que não nos largará até que o dia acabe. Acontece a todos e da ocorrência não vem mal ao mundo, mas que irrita, irrita. Kelly Jakubowski, investigadora principal do Departamento de Música da Universidade de Durham, Inglaterra, não nos salvará das canções que nos invadem o cérebro sem convite durante dias a fio, mas a sua equipa explica quais as características musicais que conduzem a que tal aconteça. E revela que, em tempos recentes, Lady Gaga pode bem ser coroada a rainha do fenómeno.

A informação para o estudo foi recolhida entre 2010 e 2013 a partir de um grupo de estudo de três mil pessoas, que foram questionadas sobre os seus mais frequentes otovermes, para usar o adequadíssimo neologismo cunhado por Miguel Esteves Cardoso nas páginas do então jornal Blitz, hoje revista, há cerca de uma década. Em seguida, essas canções foram comparadas com outras que, não tendo sido nomeadas, se equivaliam em popularidade e em proximidade temporal quanto à presença nas tabelas de vendas inglesas (o estudo circunscreveu-se a público inglês e alemão e aos estilos musicais mais ouvidos no Ocidente, o rock, pop, hip hop e R&B).

“Estas canções musicalmente pegajosas têm um andamento rápido, reunido a uma forma melódica vulgar e a intervalos e repetições incomuns, como podemos ouvir no riff de abertura de Smoke on the water, dos Deep Purple, ou no refrão de Bad romance, de Lady Gaga”, afirma a autora do estudo publicado agora na revista Psychology of Aesthetics, Creativity and the Arts, em declarações citadas em comunicado da Associação Americana de Psicologia. Tais padrões encontram-se, por exemplo, nas canções de embalar, o que, dizem os autores, as torna mais fáceis de memorizar pelas crianças.

Moves like Jagger, dos Maroon 5, um dos otovermes mais referidos, tem uma melodia que evolui de forma semelhante a Twinkle, twinkle little star, o tema infantil britânico usado no estudo como exemplo. Em ambas se regista uma subida de tom na primeira frase, seguida de uma descida na segunda. Se reunirmos a essa característica os intervalos e repetições incomuns acima referidos, como as que se ouvem em My Sharona, o clássico dos The Knack, ou em In the mood, o standard de Glenn Miller, temos um otoverme completo, preparadíssimo para a acção nas nossas mentes indefesas.

Entre as canções mais nomeadas no estudo como otovermes, há um nome que se destaca. Lady Gaga é a única presença repetida, com Bad romance, Alejandro e Poker face incluídas na lista. Fazem-lhe companhia contemporâneos como Gotye (Somebody I used to know), Maroon 5 (Moves like Jagger) e Katy Perry (California gurls). Surgem depois um clássico do rock FM da década de 1980, os Journey de Can’t stop believing, uma canção cujo título parece indiciar desde logo a sua natureza “otovérmica” (Can’t get you out of my head, de Kylie Minogue) e a aparentemente eterna Bohemian Rapshody dos Queen.

O ano passado, um outro estudo, também britânico, mas elaborado na Universidade de St. Andrews, não se propôs descobrir o que tornava uma canção um otoverme, mas identificar os maiores otovermes de sempre da música anglo-saxónica. Lady Gaga não tinha lugar na lista, mas os Queen surgiam em destaque, com We will rock you no topo da lista e com We are the champions e Bohemian rapshody em terceiro e sexto lugar, respectivamente.

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