Selma Uamusse antecipa no Misty o disco que agora vai mesmo sair

Cantora moçambicana estreia o EP Mati e mais alguns temas do novo álbum esta quarta-feira, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

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Selma Uamusse ao vivo no festival Mimo, em Amarante, em Julho de 2016 PAULO PIMENTA

Não é ainda o tão esperado disco de Selma Uamusse mas é o mais próximo que alguma vez estivemos dele. Em concerto integrado no Misty Fest, a cantora moçambicana apresenta esta quarta-feira às 21h, no palco do Centro Cultural de Belém (CCB), um EP que antecipa o disco que aí vem, agora em fase de misturas. Mas enquanto o disco terá dez ou 11 temas, o EP tem apenas três: Mati (que lhe dá título), Ngono Utana e Song of Africa.

Selma, que conhecemos de projectos como Nu Jazz Ensemble, Cacique 97 ou WrayGunn, dá como principal razão para o adiamento do disco um “sentido de responsabilidade na maturação que ele precisava de ter”. Em Janeiro de 2014 estava quase pronto, mas na primeira apresentação ao vivo ela viu que o som já era diferente. E voltou ao princípio, com uma coisa boa: começou a haver muitos concertos. “Que tiveram como consequência uma maturação dos temas. Eu vinha de uma bagagem muito diversificada e não quis ir para o óbvio, preferi fazer uma outra viagem.”

Falou-se, a propósito do disco que virá, em “reescrita da música tradicional moçambicana”. Ela nega tal pretensão. “Se alguma pretensão eu tenho é poder ser de alguma maneira embaixadora daquilo que é a cultura moçambicana. Mas tenho de ser honesta: vivo em Portugal desde 1988 [tinha então seis anos], vou a Moçambique com muita frequência, mas a minha bagagem vem de muitos lados. O que tento fazer com este trabalho é uma abordagem muito minha daquilo que me está intrínseco musicalmente. É uma abordagem que não é puramente tradicional mas não deixa de querer mostrar aquilo que me influencia, nos instrumentos, nas sonoridades, na língua.”

A língua como instrumento

O novo disco terá temas cantados em inglês e em changana e dois temas mistos, em português e changana. “Há autores que estão muito ligados à letra, à linguística, mas eu utilizo a língua quase como um instrumento. A musicalidade da língua é aquilo que mais me preocupa para poder transmitir uma mensagem. E a minha mensagem é mais espiritual e emotiva, passa por melodias e pela maneira de estar em palco mas também em estúdio. A mensagem é importante, não pelas palavras em si mas pela forma como se enquadra com a música.” Alguns dos temas são dela, outros foi buscá-los ao cancioneiro moçambicano, mas também tem uma canção composta por Susana Travassos e uma parceria com Milton Gulli, dos Cacique 97.

“Tenho, neste trabalho, os músicos que têm estado comigo na estrada. Um é o Nataniel Melo, percussionista (também dos Terrakota), uma peça fundamental pelo conhecimento adicional que traz aos ritmos e aos instrumentos musicais moçambicanos; tenho o Gonçalo Santuns, que é baterista mas também toca baixo nalguns temas e faz coros; e tenho o Augusto Macedo, o meu braço direito, que é baixista, teclista e faz a direcção musical. É ele que compõe e arranja os temas comigo, é a pessoa que melhor conhece todo o trabalho.”

No concerto do CCB, onde apresentará todas as canções do novo disco que já estão gravadas, Selma Uamusse terá ainda como convidados Cheny Wa Gune, dos Timbila Muzimba, e Jori Collignon.

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