Alicerces de aqueduto romano descobertos em Évora

Achado encontrado por debaixo de aqueduto renascentista, que ainda está em condições de fornecer água ao centro histórico da cidade alentejana, tem uma extensão de oito quilómetros.

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Parte das escavações realizadas em Évora revelaram vestígios de uma construção romana DR
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Actualmente, o aqueduto de Évora tem uma extensão de cerca de oito quilómetros DR

Sondagens arqueológicas efectuadas no Aqueduto da Água de Prata, construído em Évora durante o reinado de D. João III, entre 1532 e 1537, vieram confirmar o que já se suspeitava: por debaixo da estrutura hidráulica actual, foram encontrados vestígios de cerâmica da época romana, associado a silhares de granito e a uma sapata de um pilar tendo por base a métrica de construção então utilizada.

Para o arqueólogo José Rui Santos que liderou a equipa de investigadores que interveio no terreno “são fortes indícios de estarmos perante uma construção romana” que “levam a crer que o aqueduto seria uma superestrutura que possuiria uma altura bastante maior do que o quinhentista”, disse, admitindo que poderia ter sido dimensionada para “levar água ao fórum romano”, situado à cota topográfica mais alta da cidade.

A descoberta foi revelada no passado domingo, por um porta-voz da Câmara Évora, durante a realização do Watch Day, dedicado à divulgação do Aqueduto da Água de Prata, no âmbito da sua inscrição no World Monument Watch 2016-2017, promovido pelo World Monument Fund (WMF).

O município adianta que os achados arqueológicos agora descobertos “vão ser ainda complementados por estudos preliminares das argamassas, levados a cabo pelo laboratório de investigação Hércules, da Universidade de Évora”. Contudo, os dados já recolhidos pela equipa de arqueólogos “permitem concluir tratar-se de duas estruturas construídas em épocas diferentes”, como confirmou António Candeias, director daquele centro de investigação.    

Os trabalhos de prospecção arqueológica decorreram ao longo dos últimos três meses e neles participaram mais de uma centena de pessoas.

A autarquia refere que a descoberta foi enquadrada no Programa de Consolidação e Valorização do Aqueduto da Água da Prata com o propósito de preservar e valorizar uma estrutura que é monumento nacional desde 1910.

A captação de financiamento para este fim será feita através do mecenato, num montante na ordem dos 600 mil euros, verba que poderá vir a ser investida em iluminação cénica e, “eventualmente permitir que o aqueduto volte a distribuir água à população” refere o município eborense. Neste sentido, Carlos Pinto de Sá, presidente da Câmara de Évora, anunciou que em 2017 vai ser realizada uma exposição para celebrar a chegada da distribuição de água à Praça do Giraldo.

A autarquia lançou ainda duas publicações sobre o aqueduto: uma banda desenhada, da autoria do investigador Francisco Bilou, com a história do monumento, e o livro/álbum com desenhos do aqueduto, da autoria dos Urban Skecthers.

Quando o Aqueduto Água de Prata foi construído tinha uma extensão de 18 quilómetros, desde a Herdade do Divor, onde vai abastecer de água, até ao centro de Évora. No século XVII, foi restaurado, devido aos danos que sofreu durante a Guerra da Restauração. E voltou a ser intervencionado nos séculos XIX e XX, sem que o traço original fosse alterado.

Recentemente a Câmara de Évora efectuou nova intervenção, desta vez junto ao monumento, para instalar o percurso da Água de Prata que obrigou à limpeza dos campos próximos do aqueduto em toda a sua extensão, que é neste momento de cerca de oito quilómetros.

O aqueduto eborense é um dos poucos do período renascentista que ainda está em condições de voltar a funcionar.

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