Portugal, um deserto em 2100?

Estudo francês, que analisou a vegetação da zona do Mediterrâneo e o impacto que terá nele uma subida de temperatura superior a 1,5ºC, sugere um cenário diferente do actual se não for travado o aquecimento global.

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Se o aquecimento global se mantiver nos níveis actuais,a futura paisagem predominante da Península Ibérica poderá ser algo semelhante a esta NFACTOS/ LARA JACINTO

Em Dezembro do ano passado, firmou-se em Paris um ambicioso acordo em que representantes de 195 países se comprometeram a um esforço colectivo para conter o aquecimento global a um aumento de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial. Cumprir o objectivo seria, obviamente, uma boa notícia para o planeta. Cumpri-la será particularmente importante para os países do Mediterrâneo e determinante para Portugal. Se não for invertido o actual ciclo de aquecimento global, a Península Ibérica poderá transformar-se num deserto até 2100. É isso que diz um estudo elaborado por Joel Guiot e Wolfgang Cramer, do Centro Nacional de Investigação Científica francês, e publicado a semana passada na Science.

O estudo partiu de uma análise das características da vegetação mediterrânica, que se mantiveram semelhantes ao longo dos últimos 10 mil anos. Posteriormente, os resultados obtidos foram combinados com projecções climáticas, de forma a perceber que repercussões terão as mudanças de temperatura, a alteração da pluviosidade e a concentração de gases na atmosfera. As conclusões são tudo menos animadoras para Portugal.

Falhando o objectivo dos 1,5ºC, mas conseguindo conter a subida global da temperatura nos 2ºC, as novas zonas desérticas na orla do Mediterrâneo ficariam circunscritas ao norte de Marrocos e Tunísia e ao sul de Espanha. Mesmo uma subida desta dimensão será, porém, responsável por uma transformação do ecossistema mediterrânico sem paralelo nos últimos 10 mil anos. Já se o aquecimento global se mantiver nos níveis actuais, Portugal transformar-se-á num país desértico em larga porção do seu território (a capital, Lisboa, será cidade erguida no meio de um vasto deserto), e o mesmo acontecerá no sul de Espanha, em Itália e na Turquia.

No estudo não foi contemplada a mão humana, que tem intervenção directa e permanente nos ecossistemas que habita. “Se tivéssemos a possibilidade de incluir o impacto humano [como a degradação do solo através da urbanização], seria ainda pior do que simulámos”, afirmou Joel Guiot à Nature. Isto, como se já não fosse assustador o suficiente a ideia da Península Ibérica como extensão do deserto do Sara ou, para evocar um exemplo referido no estudo, imaginar o Palácio da Pena, em Sintra, como monumento destacando-se no topo de uma elevação despida de vegetação. 

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