Moderat: “Os nossos concertos são como um filme”

Os Moderat tocam esta segunda-feira em Lisboa, mas mais do que um concerto a electrónica dos alemães oferece um espectáculo audiovisual de som, luzes e efeitos. Eles dizem que é como assistir a um filme de som intenso.

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Os Moderat actuam esta segunda-feira em Lisboa DR

O trio germânico Moderat prepara-se para lançar um álbum ao vivo intitulado Live. Faz sentido. Nos últimos anos editaram três álbuns de estúdio (Moderat de 2009, II de 2013 e III de Abril deste ano) mas tem sido em palco que têm vindo a construir a sua reputação, o que não é tão comum quanto isso quando se pensa em formações das electrónicas que competem com os grandes do rock. É por isso com expectativa que se aguarda pelo concerto, esta segunda-feira, pelas 21h30, na LX Factory, em Lisboa.

Quem os viu no contexto do festival Nos Primavera Sound do Porto, já sabe ao que vai. Mais do que um concerto é um espectáculo audiovisual, de som electrónico dinâmico, luz intensa e imagens de alta definição, tudo devidamente sincronizado, numa coreografia visual que é capaz de amplificar o poder das canções. Constituído por Sascha Ring (também conhecido por Apparat), Sebastian Szary e Gernot Bronsert (estes dois mantém o seu outro projecto Modeselektor), o trio consegue associar o impacto geométrico da música tecno alemã, misturando-a com sons graves e melodias hipnóticas, seguindo uma estrutura de canção pop.

São naturais de Berlim. E um deles, Sebastian Szary, tem estado em Lisboa de férias com a família. Conhece bem a cidade: a sua primeira vez foi em 2009 e desde então tem regressado com assiduidade, estando atento às transformações. Ele que habita em Berlim, onde nos últimos anos os conflitos decorrentes dos excessos do turismo têm sido avidamente debatidos, não tem dúvidas em afirmar que aqui ainda se vive uma situação de equilíbrio. “Claro que existem mudanças, mas nada de desastroso”, começa por dizer. “A primeira vez que aqui vim gostei de imediato da cidade, pela junção de características mediterrânicas e atlânticas. Hoje vêem-se imensas coisas para turistas o que não acontecia nessa altura, mas tenho-me sentido muito confortável. Há realmente zonas turísticas densamente povoadas mas muitas outras mantêm uma certa pureza, como a zona de Anjos, onde tenho estado por estes dias.” Na sua visão, como em Berlim, as autoridades têm de estar atentas, mas para já até nos artigos direccionados para turistas encontra qualidade. “Como se chama aquele licor? Ginga? Não quero saber se é para turistas, sei é que é bem bom!”

Desde que lançou o terceiro álbum em Abril, o trio não tem parado, com concertos pela Europa e Estados Unidos, mas essa não é uma boa forma de conhecer as cidades, assegura Szary. “Raramente existe tempo para as vivenciar. Quando andamos em digressão de autocarro, durante semanas, os rituais repetem-se numa mistura de duches, ensaios de som, entrevistas e concertos. A única maneira de sair desse círculo é pela comida. É quando procuramos um restaurante agradável e pouco turístico que a aventura de reconhecimento da cidade começa verdadeiramente”, afirma ele.

O impacto visual dos seus espectáculos deve-se, em parte, à colaboração com a agência de design alemã Pfadfinderei, embora todos eles participem activamente nos processos criativos. Uma coisa é certa: da imagem ao som, os seus concertos estão pensados para espaços de envergadura. “Somos uma estrutura considerável de 14 pessoas, com os vídeos, os efeitos, a maquinaria, por isso deixamos quase de lado a hipótese de tocarmos em lugares mais intimistas. Num pequeno clube é óptimo estar perto das pessoas, mas é também gratificante ter uma massa à frente, vislumbrando a sua reacção como se fosse uma onda em construção.”

Parte do seu sucesso é justificável pela forma como conseguiram criar um corpo híbrido onde a canção pop habita com formas electrónicas. “É uma relação incestuosa!”, ri-se Szary, que também nos Modeselektor é capaz de atrair corpos aparentemente contrários, promovendo encontros entre a cultura tecno e o hip-hop. “A música que fazemos nos Moderat ou nos Modeselektor teria mais dificuldade de existir nos anos 1990, por exemplo, porque nessa altura havia uma grande divisão entre quem ouvia tecno, hip-hop ou rock alternativo. Hoje já não sinto tanto isso.”

A década de 1990 marcou-os. Foi aí que os três cresceram para a música, pelo menos enquanto consumidores. “Quando comecei a ouvir tecno gastava todo o dinheiro em discos e a minha mãe dizia-me que daí a três anos todo aquele investimento não iria valer nada, afinal, anos depois ainda aqui estou”, ri-se ele, apressando-se a dizer que apesar disso não tem nostalgia do passado. “Sinto que hoje estamos melhor conectados e isso é uma mais-valia. Na minha juventude sentia-me por vezes apartado do que se passava no resto do mundo. Agora não. Os problemas são os mesmos um pouco por todo o lado. Como o turismo. É bom podermos comunicar sobre essas experiências, semelhantes em Berlim ou Lisboa.”

Quanto ao concerto desta segunda-feira deixa uma promessa: “Os nossos concertos são como um filme. Mas não é um filme qualquer. É um filme onde o som é muito intenso.”

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