Nova reitora da Católica quer avançar com a criação de uma faculdade de Medicina

Diz que 11% das receitas da sua instituição são para pagar bolsas sociais. Mas que ir mais longe. Afinal, lembra, quando a universidade foi criada, afirmava-se: “Ninguém deixa de estudar na Católica por dificuldades económicas.”

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"Portugal tem um excelente ensino de Medicina e para apresentar um novo curso nesta área é preciso que ele traga valor acrescentado", diz Isabel Capeloa Gil Rui Gaudêncio

Isabel Capeloa Gil tomou posse a sexta-feira como reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP). Sucede a Maria da Glória Garcia, de quem foi vice-reitora. A liderança da instituição mantém-se nas mãos de uma mulher.

Nascida em 1965, Isabel Capeloa Gil cresceu em Macau e estudou na Universidade de Lisboa, na LMU, em Munique, e na Universidade de Chicago, doutorando-se em Estudos Alemães, em 2002. Pertence e tem ocupado cargos de gestão em diversas associações científicas nacionais e internacionais, como a International Comparative Literature Association, e faz parte dos conselhos editoriais de várias revistas internacionais na área dos Estudos de Cultura e Comunicação.

Foi vice-reitora no mandato anterior. Que ideias vai manter?
O tempo das universidades não é o tempo da política e as ideias não se esgotam num mandato de quatro anos. Há um conjunto de linhas de continuidade com a anterior equipa, nomeadamente na aposta na internacionalização, reforço da investigação e articulação com as empresas, mas também com matérias que vêm muito de trás, como por exemplo o projecto de criação da Faculdade de Medicina, que tem 30 anos.

Essa pode ser a grande bandeira do seu mandato?
Não quero colocar esta questão dessa forma. O projecto da faculdade de Medicina atravessou vários mandatos, foi retomado pela professora Maria da Glória Garcia e eu espero conseguir materializá-lo.

O que mudou para que este projecto possa ser agora possível e antes não o tenha sido?
Por um lado, conseguimos uma parceria académica muitíssimo importante com a Universidade de Maastricht [Holanda] que permite criar uma aposta diferenciadora. Portugal tem um excelente ensino de Medicina e para apresentar um novo curso nesta área é preciso que ele traga valor acrescentado. A parceria com Maastricht dá-nos não só uma alavancagem internacional, porque o curso será leccionado em Inglês, como permite apresentar uma proposta diferenciadora.

Depois há um elemento que é essencial para os cursos de Medicina: têm que estar ligados a uma instituição de saúde. Agora conseguimos isso [no seguimento de uma parceria com o Grupo Luz Saúde].

O curso está pronto para pedir a sua acreditação à Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES)?
Ainda não nem nunca dissemos que isso ia acontecer já. Os nossos parceiros precisam de construiu um hospital. Ao mesmo tempo que estamos a propor projectos de desenvolvimento das estruturas, estamos a trabalhar no recrutamento e na proposta académica. Só quando estas três dimensões estiverem prontas é que pode ser submetido à A3ES.

Quando é que isso pode acontecer?
A expectativa é que seja dentro de um ano ou no máximo dois.

A UCP tem cerca de 13% de alunos estrangeiros. Há margem para crescer?
Esse é o número de alunos que vêm fazer formações completas em Portugal. Procuram-nos em áreas muito diversas. Esta é uma estratégia de longa duração, para a qual a universidade se preparou há mais de dez anos, fazendo uma aposta virada para o mercado de língua inglesa. Acreditamos que temos condições para continuar a crescer.

E a nível nacional? As dificuldades económicas das famílias afastam muitos alunos, sobretudo de uma instituição que tem propinas três vezes mais caras do que as públicas.
Quando a universidade foi criada, uma das palavras de ordem dos primeiros reitores era precisamente: “Ninguém deixa de estudar na Católica por dificuldades económicas.” À medida que a situação de mercado se foi degradando, reforçamos essa política. Hoje em dia, dispensamos 11% das nossas receitas para pagar bolsas sociais. No entanto, acho que ainda não é suficiente e temos que trabalhar em fontes alternativas, como campanhas de fundraising junto de ex-alunos e beneméritos para as bolsas sociais, ou outras iniciativas, como prestações de serviços junto do mercado.

Sucede a uma outra mulher à frente da instituição. Tem algum significado o facto de a UCP ser liderada em dois mandatos consecutivos por mulheres?
A Católica mostra que a nomeação de uma mulher não é a excepção que confirma a regra, mas uma prática regular baseada no mérito. Que em 750 anos de universidades só tenhamos tido seis mulheres e que duas sejam da Católica parece-me exemplar.

Durante o mandato anterior alguma vez sentiu problemas por ser uma mulher num cargo de chefia?
Não, de todo. No mandato anterior tínhamos uma maioria do sexo feminino na reitoria. Há uma forma de gerir e estar em equipa muito curial, com uma relação de afectividade completamente diferente.

Que papel pode ter uma instituição de matriz católica no ensino superior?
A Católica tem vindo a energizar o ensino superior português desde a sua formação. Fomos a primeira universidade a criar um curso de gestão de empresas, a primeira a ter cursos de Biotecnologia e a ensinar Direito em Inglês, nos cursos de LLM [abreviatura internacional para mestrados em Direito]. Temos sido inovadores na formação.

Correcção: a Universidade de Maastricht não fica na Bélgica, como estava originalmente escrito; fica na Holanda.

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