Avó, filha e netas: as Manitas de Plata acusadas de agarrar carteiras de luxo

Avó de 65 anos, filha e netas começam nesta sexta-feira a responder em tribunal por crimes em centros comerciais país fora. São uma família de seis mulheres, todas acusadas de carteirismo.

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RITA CHANTRE / PUBLICO

São avó, filha e netas, e têm nomes que parecem de antigas estrelas de cinema. Negam, porém, o protagonismo que a polícia insiste em lhes atribuir em dezenas de crimes. Como que por artes mágicas, recheadas carteiras de pele e os cartões multibanco que lá moravam dentro passavam das malas das legítimas proprietárias para as mãos delas. Educadas e bem vestidas, as seis mulheres de origem colombiana, mas há muito a morar em Portugal, começam nesta sexta-feira a ser julgadas no Campus da Justiça, em Lisboa. É o culminar de um processo que a Divisão de Segurança a Transportes Públicos da PSP baptizou com o sugestivo nome de Operação Manitas de Plata.

Com 65 anos, a matriarca Myriam mora com o marido num condomínio no concelho de Palmela. No cofre que alugou no banco havia gargantilhas, anéis e outras peças em ouro e jóias no valor de mais de 46 mil euros. Já na sua residência e nos apartamentos das suas familiares, também situados na Margem Sul, foi descoberta uma impressionante quantidade de malas e carteiras Louis Vuitton, Dior, Gucci, Burberry, Moschino, Guess e Carolina Herrera, entre outras marcas de luxo.

Os seus gostos requintados estendiam-se às compras que, segundo o Ministério Público, faziam depois com os cartões que conseguiam subtrair às suas vítimas, habitualmente mulheres de meia idade ou idosas que passeavam nos centros comerciais: de perfumes caros a compras em lojas de casinos, não se privavam de nada. Um dos locais onde se abasteciam era a Avenida da Liberdade, em Lisboa, mas a acusação assegura que corriam Portugal de lés a lés.

Para ajudar a provar os crimes que lhes imputam – associação criminosa, furto qualificado e ainda burla informática, associada ao uso fraudulento dos cartões de débito e de crédito – as autoridades contam com imagens captadas pelas câmaras de alguns centros comerciais, mostrando-as a rodear pessoas que só muito mais tarde dariam pela falta das carteiras e respectivo conteúdo.

"Dar-se à morte"

O Ministério Público descreve um método que executariam de forma meticulosa: observavam as suas presas a usar o código dos cartões na máquina multibanco e seguiam-nas até lhes aparecer uma oportunidade para se aproximarem o suficiente, fosse enquanto pagavam as compras numa loja, fosse na porta giratória de um centro comercial.

“A responsabilidade de retirar os bens recaía sempre sobre as mesmas arguidas, enquanto as restantes lhes prestavam o apoio necessário, nomeadamente para ocultar movimentos da sua parceira. Para facilitar a sua dispersão no meio da multidão, as que prestavam apoio ficavam muitas vezes a falar com as vítimas, enquanto as outras se colocavam em fuga com os bens”, refere a acusação.

Quem fica para trás a distrair as vítimas, para encobrir os cúmplices, está a “dar-se à morte”, diz-se no jargão policial. E se algumas das lesadas retiraram as queixas que haviam apresentado por furto depois de as colombianas se terem disponibilizado para lhes restituir o dinheiro, outras houve que conseguiram reconhecer na esquadra, através de fotografias, não quem lhes levou as carteiras mas quem com elas meteu depois conversa. Só uma das vítimas diz ter ficado sem 3800 euros, entre bens e dinheiro.

Cabeleireira de cães 

Nem tudo corria sempre bem. Quando ouviu o som de moedas a tilintar no chão quando andava às compras na Zara do centro comercial Colombo, em meados de Janeiro passado, uma angolana levou a mão à mala e deu pela falta de mais de mil euros, documentos pessoais e um telemóvel de 600 euros. Ainda teve tempo de ver Liz, neta de Myriam, a sair pela porta da loja e de a agarrar. A colombiana acabou por ser detida.

“Não têm qualquer actividade lícita. Ao que tudo indica, vivem exclusivamente desta actividade para angariarem dinheiro fácil”, conclui a acusação. Mas nas escassas declarações que têm prestado às autoridades não só negam os crimes de que são acusadas, como a maioria assegura ter ocupação fixa.

Liz, que tem 27 anos, diz-se cabeleireira de canídeos, apesar de já ter estado na cadeia em Gibraltar por outras proezas com carteiras alheias, enquanto outras das suspeitas se declaram esteticistas viúvas ou estudantes. A mais nova tem 23 anos. “São pessoas com uma vida absolutamente normal, tirando os furtos”, conta uma fonte conhecedora do processo. A serem declaradas culpadas, tê-lo-ão feito por necessidade? “Talvez por vício. Viciaram-se em compras”, responde a mesma fonte.

Contactado pelo PÚBLICO, o advogado de Myriam escusou-se a prestar declarações sobre o caso, alegando impedimentos deontológicos.

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