“Há quanto tempo é que não faço eu o jantar?”

Promover a conciliação entre a vida profissional e familiar e a partilha das tarefas domésticas entre homens e mulheres são os objectivos da campanha que arranca esta quarta-feira. Em média, as mulheres trabalham mais 1h30 minutos em casa do que eles

Um dos mupis que vão estar espalhados por todo o país
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Um dos mupis que vão estar espalhados por todo o país
Cozinhar, limpar a casa e cuidar dos filhos ainda são tarefas femininas janeb13/ Pixabay
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Cozinhar, limpar a casa e cuidar dos filhos ainda são tarefas femininas janeb13/ Pixabay

O mote para a campanha que é lançada esta quarta-feira sobre a forma (desigual) como homens e mulheres conciliam a vida profissional com a vida pessoal e familiar é dado sob a forma de perguntas: “Há quanto tempo é que não faço eu o jantar?”, “Há quanto tempo é que não te vou buscar à escola?”, “Quando é que tenho tempo para mim?” e, por último, “Quando é que adoptamos práticas de conciliação no trabalho?”.

Estas interpelações vão começar a ser vistas em mupis por todo o país e ouvidas em spots radiofónicos e televisivos, numa tentativa de “sensibilizar homens e mulheres e também as entidades empregadoras para a necessidade de facilitar a conciliação do tempo entre o trabalho e a família, por um lado, e, por outro, promover a partilha das responsabilidades ao nível do trabalho não pago”, adiantou ao PÚBLICO Heloísa Perista, investigadora do Centro de Estudos para a Intervenção Social (CESIS).

Esta campanha com paineis publicitários surge na sequência do estudo Os Usos do Tempo de Homens e Mulheres em Portugal, que o CESIS desenvolveu em parceria com a Comissão para a Igualdade no trabalho e no Emprego (CITE), e que demonstrou que as mulheres portuguesas afectam em média todos os dias mais de 1h30m ao trabalho doméstico do que os homens.

Mais tarefas para as mulheres

Cozinhar, passar a ferro, limpar a casa e cuidar dos filhos são tarefas que recaem muito mais sobre os ombros femininos, mesmo quando ambos os elementos do casal exercem uma profissão remunerada fora de casa. E a desigualdade torna-se ainda mais evidente quando se constata que, em média, eles trabalham apenas mais 27 minutos do que elas no emprego remunerado.

Em média, as mulheres que exercem uma actividade profissional fora de casa gastam quatro horas e 17 minutos por dia nas tarefas domésticas e com os filhos, enquanto o homem investe nisso apenas 2h37 minutos do seu dia, segundo o mesmo estudo, que se baseou em cerca de 10 mil inquéritos efectuados desde Outubro de 2014.

No documento, 39,4% das inquiridas, contra 30,2% dos homens, queixavam-se de raramente terem tempo para aquilo de que gostam. Curiosamente, cerca de sete em cada 10 mulheres consideravam que a parte que lhes cabe das tarefas domésticas corresponde ao que é justo.

Daí que campanhas de sensibilização como a que hoje arranca visem combater este “grau menos apurado de percepção das injustiças que rodeiam esta realidade”, como afirmou Heloísa Perista, quando as primeiras conclusões deste estudo foram divulgadas, em Junho.

170 anos para atingir a igualdade salarial

Esta campanha nacional sobre conciliação e usos do tempo é lançada no mesmo dia em que o Fórum Económico Mundial considerou que serão precisos 170 anos para que a igualdade de género em termos económicos seja atingida, isto é, para que as mulheres passem a ganhar tanto como os homens.

Estas projecções constam do mais recente relatório sobre as diferenças globais entre géneros, segundo o qual o fosso da desigualdade tem vindo a agravar-se. Em 2015, os especialistas previam que fossem precisos “apenas” 118 anos para alcançar a igualdade salarial.

Por estes dias, e ainda segundo o Fórum Económico Mundial, que analisa factores como educação, saúde, sobrevivência, oportunidades económicas e participação política, as mulheres ganham em media pouco mais de metade do que os homens, apesar de em geral trabalharem mais horas.

Na lista das 144 nações analisadas (e liderada pelos costumeiros Islândia, Finlândia, Noruega e Suécia), Portugal surge em 31.º lugar, mas desce de lugar quando o que se analisa é a participação e oportunidade económica (46.º lugar), formação académica (63.º lugar), saúde e sobrevivência (76.º lugar) e empoderamento político (36.º).

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