Há uma bactéria presa dentro de uma obra de arte em Braga

Artista visual Pierce Warnecke trabalhou com os cientistas do Laboratório Ibérico de Nanotecnologia para criar uma instalação. Até ao final do ano pode ser vista na Gnration

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Dentro de uma máquina muito pequena corre um microfluido. O aparelho analisa-o e, quando detecta a presença de uma bactéria, provoca uma mudança de cor naquele líquido. Em termos simples, foi isto que o artista Pierce Warnecke viu acontecer nos laboratórios do Instituto Ibérico de Nacnotecnologia (INL, na sigla internacional), em Braga. E este processo inspirou-o a criar Environment monitoring (que pode traduzir-se para Monitorização do Ambiente), a instalação visual e sonora que inaugurou na terça-feira no espaço Gnration.

A peça de Warnecke pode ser visitada até ao final do ano numa das galerias do equipamento cultural bracarense. Para lá das cortinas negras que isolam todas as entradas de luz do interior, há uma grande mesa, dividida a meio por um ecrã. A intenção do artista norte-americano – há mais de uma década a viver na Europa – foi replicar o processo de investigação que conheceu no INL, mas sem ser demasiado exaustivo. “Não é uma peça didáctica, é uma interpretação poética”, precisa.

O ecrã a meio da mesa funciona como uma espécie de microcópio que analisa e amplia cada corpo que entra num dos extremos da mesa. E foi precisamente na ideia de entrada e saída (input-output) que Pierce Warnecke pensou para criar esta obra. Quando esse dispositivo detecta o contaminante, ocorre a mudança no aspecto do liquido que inspirou o artista, que na instalação audiovisual se manifesta por uma mudança de cor, ritmo e som da própria peça.

A residência artística de Warnecke no INL decorreu desde Julho e permitiu ao artista conversar com os cientistas que ali trabalham. A criação foi feita no âmbito do programa Scale Travels, que o laboratório de nanotecnologia está a desenvolver, desde o ano passado, em parceria com o Gnration. A intenção é a de comunicar de uma forma alternativa com a sociedade o trabalho que é feito pelos cientistas dentro do equipamento científico financiado por Portugal e Espanha.

Environment monitoring é a primeira obra criada em exclusivo dentro do laboratório, mas a colaboração entre o INL e o Gnration já tinha, por exemplo, permitido a exposição da Urban Algae Folly, uma estrutura arquitectónica que reúne micro-organismos vivos, no centro da cidade, no final do ano passado.

“Para nós é importante estarmos presentes onde as pessoas da sociedade estão presentes”, explica o director do INL Lars Montelius. O cientista conta que a ideia foi “bem recebida” pelos colegas no laboratório. “Estamos conscientes das dificuldades em comunicar aquilo que fazemos na nanotecnologia”, reconhece, mas, ao mesmo tempo, estes investigadores têm o hábito de “colaborar de forma transdisciplinar, com biólogos, químicos, ou físicos”, estando por isso habituados a ter alguma abertura a novas propostas.

Já para Pierce Warnecke, o trabalho foi a oportunidade para desconstruir “diversos equívocos” sobre a nanotecnologia. “Às vezes pensa-se que os cientistas estão muito afastados da realidade, mas o que eu vi ali foram investigações destinadas a resolver problemas concretos, ajudar a atacar fome no mundo ou o problema do desperdício alimentar, por exemplo”.

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