China descobriu o antídoto para as injúrias de Duterte – dinheiro

O Presidente filipino adoptou um tom conciliador para a sua visita de Estado a Pequim, onde espera garantir oportunidades de negócio.

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Rodrigo Duterte à chegada a Pequim Thomas Peter / Reuters

“Queremos falar sobre amizade, queremos falar sobre cooperação e, acima de tudo, queremos falar sobre negócios.” Estas são palavras do Presidente filipino, Rodrigo Duterte, o mesmo homem que chamou “filho da puta” ao Presidente dos EUA e ao Papa Francisco. A mudança do estilo controverso para a pose de Estado foi feita nos dias que antecederam a visita de Duterte à China, iniciada esta terça-feira.

Foi numa entrevista à agência estatal Nova China que Duterte se desfez em elogios ao país que o está a receber. “Diria que a China merece o respeito do qual goza agora”, disse o líder filipino. Desde que tomou posse, Duterte não escondeu que o seu desejo de aproximação à China é proporcional ao reduzido valor que atribui à aliança militar e diplomática com os EUA.

“As nuvens estão a afastar-se. O sol levanta-se no horizonte e irá brilhar de forma bela sobre o novo capítulo das relações bilaterais”, dizia o embaixador chinês em Manila, Zhao Jianhua. As nuvens de que falava o embaixador vieram de Haia, onde se situa o Tribunal Arbitral Permanente que, em Junho, deu razão a uma queixa das Filipinas contra a reivindicação chinesa sobre um recife no Mar do Sul da China. A deliberação foi encarada como um golpe profundo nas ambições de Pequim, que diz ter direitos territoriais sobre a quase totalidade do mar meridional – por onde passa anualmente metade do comércio marítimo mundial.

Porém, Duterte nunca pareceu muito interessado em fazer valer um trunfo aparentemente tão valioso como este – e essa regra mantém-se na visita à China. Ao chegar a Pequim, o Presidente filipino garantiu que o caso não faz parte da agenda. “Pode surgir, mas vai ser uma abordagem suave para todos. Sem imposições”, acrescentou, citado pela Reuters.

O grande interesse de Duterte está na revitalização da economia filipina, que vê com bons olhos o investimento chinês em infraestruturas. “Ele vê a China como uma fonte muito óbvia para isso”, disse ao Guardian o professor de Relações Internacionais da Universidade de Melbourne, Nick Bisley.

Essa política é posta em prática na visita desta semana, em que Duterte se faz acompanhar por uma delegação composta por 250 empresários. Segundo a Reuters, a comunidade empresarial filipina acorreu em força à visita, com cerca de uma centena a ficar de fora. O mercado chinês esteve fora do radar das empresas filipinas desde que os dois países se envolveram na disputa territorial no Mar do Sul.

Quanto ao território em questão, é possível que seja encontrado um compromisso para que os pescadores filipinos sejam autorizados pela China – que exerce o controlo real sobre o recife de Scarborough – a lá pescar. Fontes governamentais chinesas confirmaram essa possibilidade à Reuters, embora haja condições impostas por Pequim que não foram reveladas.  

Para Pequim, mais do que atrair as Filipinas, o mais importante é quebrar o consenso regional de condenação das suas reivindicações territoriais. “Se a China conseguir desanuviar algumas das tensões com as Filipinas (…) então creio que os chineses podem esperar reduzir o envolvimento norte-americano no Mar do Sul da China”, diz a especialista do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, Bonnie Glaser.

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