A maioria das pessoas em Fukushima “sente que foi abandonada pelo mundo”

O fotojornalista suíço Dominic Nahr é um dos participantes do Sintra Press Photo (a partir de 22 de Outubro), que este ano abordará o tema "Flagelo Humano".

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Da série Fallout Dominic Nahr
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Dominic Nahr (Suíça, 1983) tem formação académica em Fotografia (Universidade Ryerson, Toronto, Canadá). Desde 2008 que documenta acontecimentos em todo o continente africano. Está baseado no Quénia, tendo crescido em Hong Kong. Ao serviço da revista Time documentou a Primavera Árabe no Egipto, a fome na Somália, o tsunami no Japão e a crise nuclear de Fukushima. Nos últimos anos, recebeu vários prémios de fotojornalismo. Entre os seus clientes estão as mais prestigiadas publicações de todo o mundo. Está a desenvolver um trabalho sobre os efeitos psicológicos e físicos do terramoto de Tohoku, do tsunami e da crise nuclear de Fukushima. É um dos três participantes do Sintra Press Photo, ao lado de Mário Cruz (Portugal) e Phil Moore (Reino Unido).

A afirmação de que o fotojornalismo está a atravessar uma crise de relevância tem sido repetida nos últimos anos vezes sem conta. Qual é a sua opinião? Partilha este discurso?
Quando comecei no fotojornalismo, senti que estávamos num ponto de inflexão no qual a indústria e o interesse pelo nosso trabalho atravessavam uma espiral negativa. Esta geração sabe que batemos no fundo, mas esta fase acabará em algum momento. Ainda não foi o caso. Esta é uma crise lenta que ainda existe. É um tempo de incerteza e com questões pendentes acerca de como avançar ou de que maneira o nosso trabalho pode existir.

A urgência constante em que os media estão mergulhados (quase não há tempo para pensar) coloca grandes desafios a uma profissão que vive da confiança e do conhecimento dos sujeitos fotografados. Qual é a maior dificuldade do seu trabalho hoje?
Tenho feito o meu melhor para parar de andar a correr atrás de notícias, de maneira a conseguir focar-me em algo a que chamo jornalismo lento. Tento comprometer-me com histórias e com tempos de execução longos que podem demorar anos e não dias. Temos de pensar como estamos a produzir trabalho e também questionar a quem é que estamos a contar histórias. Os media mainstream têm sido enfraquecidos até ao mínimo de sobrevivência.

Chegou a Fukushima pouco depois do terramoto e do acidente nuclear. Voltou depois ao longo dos anos. O que o levou a querer acompanhar durante tanto esta realidade? Como vivem as populações em redor dos locais acidentados?
Para ser honesto, fui inspirado pelo trabalho que Eugene Smith fez em Minamata, que durou vários anos. A história dele e a minha tocam em assuntos como a corrupção em grandes organizações, que fez com que se poluísse uma determinada área, deixando que as pessoas atingidas por este desastre sofressem com a tragédia. No início, a história era sobre o tsunami, mas fiquei tão chocado com o que se passou em Fukushima que tive de voltar ano após ano, até agora. A maioria das pessoas sente que foi abandonada pelo governo e pelo resto do mundo. Tenho amigos, pessoas que fui conhecendo ao longo dos anos e de quem fui vizinho e que não posso ignorar. Alguns dos quais morreram. Esta história é um assunto sério. Enquanto o resto do mundo avança, o meu coração está naquele lugar que, fundamentalmente, mudou a minha maneira de ser.

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