Descobertas cartas entre dois negociantes de arte que trabalharam para os nazis

Demolição de uma casa no Nordeste da Alemanha deixou à vista documentos trocados entre dois marchands que trabalharam para Hitler.

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Hildebrand Gurlitt começou por ser perseguido pelo regime por te ruma avó judia e acabou a trabalhar para Hitler DR

São cartas dos anos 1940 e foram escritas por um grande negociante de arte alemão e enviadas a outro grande negociante de arte alemão. Hildebrand Gurlitt (1895-1956) é o remetente, Bernhard A. Böhmer (1892-1945) o destinatário. Conhecedores do mundo da arte e dos artistas, com uma reputação internacional e uma agenda repleta de contactos de historiadores de arte, galeristas e directores de museus, Gurlitt e Böhmer foram dois dos maiores marchands da Alemanha nazi e fizeram parte da alargada rede de especialistas a que Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Hitler, e outras figuras da cúpula do regime recorreram para vender a chamada “arte degenerada” – essencialmente moderna e abstracta, que não se encaixava nos padrões estéticos do Reich – fora do país e assim financiar o esforço de guerra.

As cartas foram agora descobertas durante os trabalhos de demolição de uma casa de madeira no Nordeste da Alemanha, escreve o espanhol El Mundo. Até aqui desconhecidas, “dão, entre outras coisas, informação sobre o comércio de obras que os nacional-socialistas consideravam ‘degeneradas’”, disse Volker Probst, da Fundação Ernst-Barlach, ao diário alemão Schweriner Volkszeitung, citado pelo jornal espanhol. Os documentos estavam guardados em sacos que foram encontrados sob o terraço.

O nome de Hildebrand Gurlitt voltou a ser falado em 2013, quando se tornou público que as autoridades alemãs tinham descoberto, dois anos antes, 1400 obras de arte num apartamento de Munique que pertencia a um alemão de 79 anos de nome Cornelius Gurlitt.

Entre este lote precioso, que em boa parte será resultado das pilhagens nazis em museus e da extorsão continuada aos coleccionadores judeus, estavam pinturas e desenhos de artistas como Marc Chagall, Henri Matisse, Otto Dix, Pablo Picasso, Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir. Cornelius, que morreu em Maio de 2014, era filho de Hildebrand, o homem com que Hitler contava para enriquecer a colecção do seu museu, um dos projectos que, imaginando-se vitorioso no fim da guerra, sonhava construir em Linz, a cidade austríaca cuja renovação planeou cuidadosa e obsessivamente.

Historiador respeitado, Hildebrand Gurlitt começara por ser rejeitado pelo regime e afastado de qualquer cargo público a que seria naturalmente candidato porque tinha uma avó judia, algo que Hitler ultrapassou ao compreender que o académico e marchand poderia ser uma peça fundamental na criação do seu museu. 

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