Marc Márquez, um campeão de mão cheia

Catalão da Honda é, aos 23 anos, o mais jovem de sempre a somar três títulos em MotoGP. Foi campeão pela quinta vez na carreira

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“Dá cá mais cinco”, lê-se na camisola de Marc Márquez AFP/TOSHIFUMI KITAMURA

Era uma conjugação de acontecimentos altamente improvável, mas Marc Márquez já se acostumou a desafiar as probabilidades. Para poder celebrar o título de campeão de MotoGP, o piloto da Honda tinha de ganhar o Grande Prémio do Japão e precisava de aliar essa vitória a outros dois resultados que não podia controlar: Valentino Rossi teria de terminar em 15.º lugar ou pior e Jorge Lorenzo não podia chegar ao pódio. Poucos se atreveriam a apostar em tal cenário, mas a realidade superou a ficção em Motegi e permitiu ao jovem catalão festejar a conquista de mais um título.

Com 75 pontos em disputa nas três corridas que restam no calendário e 77 de avanço sobre os rivais, Marc Márquez garantiu mais um troféu para a sua galeria. É a quinta vez que se sagra campeão, tendo superado a concorrência pela terceira ocasião em quatro temporadas na categoria-rainha (também foi campeão de 125cc em 2010 e de Moto2 em 2012). A mão aberta no final da corrida no Japão mostrava que Márquez se tornou um campeão de mão-cheia. E a frase que se lia na camisola que vestiu para a festa dizia o resto: “Dá cá mais cinco”. A quinta vitória da época, a 55.ª da carreira, serviu para o piloto catalão garantir o quinto título. O objectivo é começar a encher a outra mão de troféus.

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Marc Márquez nunca tinha vencido no Japão com uma MotoGP. Mas tudo lhe correu de feição: Rossi caiu durante a sétima volta, Lorenzo caiu a cinco voltas do fim, quando era segundo, e o jovem catalão só teve de segurar o triunfo. Foi quando teve de controlar a ansiedade: “Quando vi que o Lorenzo estava fora da corrida fiz uma volta desastrosa, cometi erros em três ou quatro curvas e enganei-me a passar algumas mudanças”, confessou Márquez no final. Tricampeão de MotoGP aos 23 anos e oito meses, o catalão é o mais jovem a completar tal feito – superou Mike Hailwood, que tinha 24 anos e três meses quando obteve o terceiro título consecutivo (1962, 1963 e 1964). E voltou a festejar em Motegi, “casa” da Honda, tal como em 2014.

O título que acaba de obter premeia Marc Márquez pela mudança de estilo que foi capaz de assimilar. Aos 23 anos já não é o piloto impulsivo e temerário, o estreante imberbe das primeiras épocas no MotoGP, mostrando ter atingido uma maturidade e ponderação que não se lhe viam no início. O catalão é o único piloto que somou pontos em todos os Grandes Prémios disputados até ao momento (incluindo um 13.º lugar em França) e ainda não registou qualquer abandono – a manter-se esse registo até ao final da época, será algo inédito na carreira de Márquez. “No ano passado, quando acabou a temporada, fiz as contas: tive seis abandonos e se tivesse sido quinto ou quarto nessas corridas em que falhei teria chegado à última corrida com hipóteses de lutar pelo título”, sublinhava, há semanas, ao diário espanhol El País.

“Paguei caro – quando deixei escapar o título no ano passado – para aprender o que sei agora”, admitiu Márquez após o triunfo em Motegi. Mas não foi só essa aprendizagem que fez crescer o catalão. O fim da temporada 2015 foi recheado de polémica, com um incidente entre Márquez e Rossi na Malásia: o espanhol queixou-se de ter sido empurrado para fora de pista pelo italiano, do qual era fã na infância. O mal-estar prolongou-se por vários meses, até um aperto de mão diplomático ter enterrado a discussão. “Acho que podemos ter uma relação profissional, minimamente cordial. Temos de respeitar-nos. Depois, na pista, cada um olha pelos seus interesses”, sublinhou Márquez. E foi isso que o catalão fez em 2016.

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