Marcelo defende perante Passos Coelho “clareza de alternativa de Governo”

No encerramento do seminário que pediu ao Fórum da Competitividade, o Presidente da República salientou a estabilidade da solução governativa como factor de confiança no país, mas insistiu na “busca de denominadores comuns” para o futuro.

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A primeira prioridade de Marcelo é a estabilidade política Rui Gaudencio/Publico

Pedro Passos Coelho estava na primeira fila e foi ao líder do PSD que o Presidente da República se dirigiu em primeiro lugar. No encerramento do seminário “Portugal: uma estratégia para o crescimento”, que pediu ao Fórum da Competitividade, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu como uma das suas prioridades a “clareza de demarcação de alternativa de Governo”. E fê-lo uma, duas, três vezes.

Na véspera de ser conhecido o Orçamento do Estado, Marcelo começou por insistir na necessidade de “investimento para fazer crescer Portugal”, salientando que esse investimento “exige confiança” e que esta é um bem “imaterial, raro e volátil”. E foi a partir da ideia de confiança que fez uma análise política à evolução do país, desde que tomou posse, a 9 de Março.

“O Governo está hoje numa posição menos frágil, mas envolvido num quadro económico de evolução complexa e problemática”, disse, resumindo as duas visões antagónicas que persistem sobre a realidade nacional: “Do lado dos reticentes, [diz-se que] este governo, com esta base de apoio e estas medidas sociais, ou não dura, ou não cumpre o défice, ou compromete a economia. Do lado dos apoiantes da solução governativa, o governo durou, cumprirá as metas do défice, promove mais justiça social e não desistirá de maior crescimento económico, com a expectativa de maior flexibilidade europeia”.

Neste contexto, o Presidente - que deixou perceber ter contribuído para a “descrispação do clima social” desde Março -, apresentou uma lista de tarefas que assume para o futuro. Se alguém tinha dúvidas, colocou à cabeça “garantir a estabilidade política e social e evitar crises, fomentar a distensão e acalmias colectivas”.

O segundo ponto é o apelo aos consensos que tem repetido: “Continuar a estabelecer pontes e defender acordos políticos e sociais de regime a pensar no crescimento efectivo de médio e longo prazo, e insistir na concertação social sem parceiros privilegiados”.

A terceira prioridade que elencou para si próprio é de compromisso com a alternativa política: “Criar condições para que os dois termos e polos da presente alternativa governativa, o do Governo e o da oposição, sejam o mais claros e fortes possíveis, para assegurarem aos portugueses caminhos inequívocos de escolha no presente e no futuro”.

Foi neste ponto que insistiu ainda mais duas vezes. Falando dos desafios de futuro, pediu para que ninguém espere “previsibilidades e ajudas excepcionais do mundo e da Europa”. “O essencial do trabalho terá de ser nosso”, disse, acrescentando: “Com clareza de demarcação de alternativa de governo”.

E referindo a eleição de António Guterres na ONU como exemplo do que é possível fazer com determinação e apoio de todos, rematou: “Chegamos onde ninguém imaginaria que se pudesse chegar. Vale a pena, sem escamotear a verdade nem iludir obstáculos, nem afastar a existência de alternativas - que só ganham em serem claras e bem definidas -, acreditarmos em nós próprios. É o que se espera de nós”.

Não seria o discurso que os empresários e políticos de direita presentes na sala do Centro Cultural de Belém esperavam ouvir. Durante cerca de uma hora, tinham criticado a opção do Governo pelo consumo interno e elencado as medidas consideradas essenciais para promover o crescimento. Mas isso não quer dizer que o Presidente não seja sensível a essas questões, a que também aludiu na intervenção. Só que não são, como deixou claro, as mais importantes.

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