#SomosSoares: a comunidade escolar venceu

Porque é que vale a pena lutar? Hoje, encontramos resposta a esta pergunta batida se olharmos para a Escola Artística Soares dos Reis

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Nelson Garrido

A CAP — Comissão Administrativa Provisória —, que (des)governou a Soares dos Reis durante um ano, pediu a demissão. É uma vitória da comunidade escolar e, dentro da comunidade escolar, essencialmente dos alunos e dos professores que nunca desistiram de defender a Soares sem nenhum outro propósito que não garantir um ensino público na área das artes com qualidade e para todos.

Durante o último ano, a CAP conseguiu desregular os horários no início do ano lectivo (problema que ainda não está resolvido), adulterar a oferta pedagógica da escola, desvirtuando a natureza própria de uma escola de ensino artístico especializado, criar o caos nas contratações de professores, desprestigiar as provas de aptidão artística trocando os jurados. Isto sem tocar no ponto essencial: a incompetência na gestão diária, que se mostrou insensível, sem capacidade de diálogo com a comunidade, sem qualquer tipo de conhecimento da vida da Soares dos Reis e daquilo que uma escola deste tipo necessita.

Se, há um ano, a direcção eleita foi demitida por alegada incompetência na gestão, devemos assumir logicamente que estes senhores terão o mesmo tratamento por parte dos órgãos competentes. Estamos habituados a apontar o dedo quando a gestão é deficitária do ponto de vista financeiro, da gestão do património. Mas poucas vezes avaliamos as mazelas que uma má gestão pedagógica pode fazer numa escola. E sim, o que se passou este ano na Soares dos Reis foi uma gestão danosa: danificou a qualidade de ensino, apesar da dedicação dos professores que contrariaram o desastre das decisões da CAP.

A cerâmica, as madeiras, o vidro e o metal, o cinema, a fotografia, os têxteis, a serigrafia, os plásticos, a informática e as aulas de programação digital e outras matérias fizeram sempre parte da componente da disciplina de Projecto e Tecnologias. Ela é o pilar fundamental destas escolas artísticas especializadas, a marca diferenciadora e enriquecedora deste tipo de oferta formativa. Atacar isso, seja através da desvalorização do papel dos jurados nas Provas de Aptidão Artística ou na balbúrdia que foram as contratações de docentes, seja até no discurso que a CAP imprimiu ao longo deste ano, passando a ideia que se gere a Soares como se gere uma qualquer outra escola. Quando a oferta formativa é especializada, a gestão é especializada. Não pode ser de outra forma.

Mas não escrevo este texto para relatar aquilo que já tem vindo a ser noticiado ao longo do ano e que só alguns não quiseram saber. Fi-lo para dar os parabéns a todos os que se levantaram contra o abuso, contra a tentativa mais agressiva de alterar o espírito daquela escola que alguma vez tinha sucedido. “Há quem tenha medo que o medo acabe”, já dizia Mia Couto. E eu acrescentaria: e quando um dos lados deixa de ter medo, o outro treme.

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