Grécia à espera de uma retoma que teima em não aparecer

Num país em que continuam em vigor controlos de capital e o acesso ao crédito é muito limitado, a saída da recessão está a revelar-se ainda mais difícil do que o previsto.

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A economia grega deverá registar um crescimento de 0,1% este ano Reuters/Marko Djurica

Com mais de 23% da população activa no desemprego e um PIB que vale menos um quarto do que valia antes da crise, na Grécia a esperança é a de que 2017 seja finalmente o ano do início da recuperação. É nisso que que o Governo diz acreditar, mas o cepticismo é grande junto de uma população que continua a ver o efeito que a manutenção dos controlos de capital e a ausência de crédito têm no consumo, investimento e exportações.

No início deste mês, o Governo liderado por Alexis Tsipras reafirmou a sua previsão de crescimento de 2,7% em 2017, a mesma que tinha sido apresentada alguns meses antes pelas instituições que compõem a troika. A confirmar-se, o crescimento de 2,7% ficaria muito longe de garantir uma recuperação total do terreno perdido pela economia grega nos anos de crise, mas sempre significaria um passo em frente depois de 2016 ter sido, mais uma vez, uma desilusão com a economia estagnada e o desemprego extremamente elevado a persistir.

O problema é que os riscos que este cenário de arranque da retoma acabe por não se confirmar são bastante elevados. As diversas entidades privadas gregas que também fazem projecções para a economia apontam para um crescimento no próximo ano inferior a 1% e os resultados que se têm vindo a assistir no final do ano, em indicadores como o investimento e as exportações, revelam que os sinais do esperado arranque teimam em não aparecer.

Um dos principais obstáculos ao regresso do crescimento está nos controlos de capital que foram impostos na Grécia em Julho de 2015 e que, apesar das promessas de levantamento rápido que têm vindo a ser sucessivamente feitas, continuam a estar em vigor praticamente na íntegra.

Os controlos de capital, que constituem limitações à saída de dinheiro do país, afectam quase todo o tipo de indicadores económicos. Em particular, dificulta grandemente o regresso do investimento, principalmente estrangeiro. É difícil convencer alguém a investir na Grécia se depois as perspectivas de conseguir fazer sair o dinheiro do país não são claras.

Os controlos de capital limitam também o comércio externo. Importar bens do estrangeiro tornou-se uma dificuldade porque, cada vez que uma empresa grega tem de pagar aos seus fornecedores, tem de pedir uma autorização para o efeito.

Isso acaba também por ter reflexos nas exportações, já que muitas vezes quem exporta também tem de importar matérias primas. Uma tarefa difícil quando, muitas vezes os clientes pagam a três meses, enquanto se é forçado pelos fornecedores estrangeiros a pagar a pronto.

Essa dificuldade poderia ser ultrapassada através do acesso ao crédito, mas, num país em que muitos ainda preferem guardar o seu dinheiro debaixo dos colchões com medo de uma nova crise, o sector bancário grego permanece extremamente debilitado e é incapaz de fornecer à economia os empréstimos que ela precisa. A aposta no investimento público também parece pouco provável, tendo em conta as limitações orçamentais que continuam a ser impostas ao país.

O Governo grego agarra-se contudo a alguns indicadores positivos. O principal é o crescimento das receitas do turismo, onde se assiste à conquista de mercado em relação a outros destinos do Mediterrâneo.

De igual modo, a notícia desta semana da libertação pela troika de mais uma tranche do terceiro empréstimo à Grécia, passando a imagem de que na frente orçamental as coisas estão a entrar numa fase mais tranquíla, pode contribuir para aumentar a confiança na evolução da economia.

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