Rússia e EUA voltam a discutir a Síria

Encontro internacional na Suíça vai contar ainda com países regionais que apoiam Assad ou estão contra o regime, como o Irão e a Arábia Saudita.

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Um dos bairros alvo dos ataques desta quarta-feira em Alepo Abdalrhman Ismail/Reuters

Sábado, a cidade suíça de Lausanne vai receber um novo encontro internacional para debater a crise síria. Depois do fracasso do acordo negociado no início de Setembro pelos Estados Unidos e Rússia, os dois países vão tentar relançar o tema e negociar algum tipo de trégua que possa abrir caminho a discussões sobre uma solução política.

“A 15 de Outubro, em Lausanne, um encontro de chefes da diplomacia americana, russa e de vários Estados-chave da região terá lugar para discutir medidas que permitam resolver o conflito sírio”, lê-se num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moscovo.

O secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro dos Negócios Estrangeiros russos, Sergei Lavrov, já debateram a Síria em dezenas de reuniões e muitas horas de telefonemas. O mês passado, conseguiram assinar um acordo para um cessar-fogo que entrou em vigor a 9 de Setembro – foi o primeiro de sempre a permitir alguma calma em diferentes regiões da Síria. As armas calaram-se durantes alguns dias, mas a ajuda que deveria ter começado a chegar a populações cercadas demorou.

56 mortos em Alepo

Quando os camiões da ONU finalmente tiveram autorização para viajar até ao Leste de Alepo, onde perto de 300 mil sírios vivem em bairros sob controlo de grupos da oposição, foram bombardeados na estrada  (enquanto na Assembleia-Geral das Nações Unidas se debatia precisamente a Síria).

Entretanto, já não há nenhuma trégua no país e Alepo tem sido alvo de frequentes bombardeamentos. Segundo membros do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (ONG ligada à oposição e que tenta contabilizar as vítimas) ouvidos pelo canal Al-Jazira, pelo menos 56 pessoas morreram nas últimas 24 horas em ataques de aviões russos.

As bombas que caíram nos bairros de Bustan al-Qasr, Fardous e Rasheeqa fizeram ainda dezenas de feridos, dizem residentes na cidade, descrevendo os “mais fortes bombardeamentos russos em dias”.

Cidade do acordo iraniano

Qualquer solução para a Síria terá de envolver inimigos regionais como Teerão e Riad e é, por isso, um sinal positivo, a presença anunciada dos iranianos no encontro de Lausanne. A Arábia Saudita teme a influência iraniana na região, que se estende do Líbano ao Iémen, passando pela Síria e pelo Iraque. Os dois países, um sunita, outro xiita, disputam há décadas a hegemonia regional.

Actualmente, a Rússia tem bastante influência em Damasco, mas o regime dos ayatollahs é o principal aliado do ditador Bashar al-Assad. O problema é que nem Assad alguma vez cumpriu um acordo, nem a oposição acredita em qualquer negociação que envolva Moscovo enquanto a aviação russa continuar a matar sírios.

Lausanne é a cidade onde foi assinado o acordo nuclear iraniano, a 30 de Junho do ano passado, após anos de negociações. O acordo permite à ONU maior acesso às instalações do programa nuclear de Teerão, ao mesmo tempo que começou a pôr fim ao isolamento da República Islâmica do Irão, com o levantamento das sanções internacionais ao país. Mais lento é o fim, ou alívio, das muitas consequências que estas sanções tinham na economia.

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