Sindicato holandês ameaça FIFA com processo em tribunal

Em causa está a "escravatura moderna" denunciada pelo organismo na construção das estruturas para o Mundial de 2022.

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STR/AFP

O maior sindicato da Holanda (FNV) ameaçou nesta segunda-feira a FIFA com um processo judicial, por suposta violação dos direitos dos trabalhadores que têm participado na construção das infraestruturas do Mundial de 2022, que terá lugar no Qatar.

"[O FNV] quer, juntamente com um trabalhador do Bangladesh, levar a FIFA diante da Justiça para exigir que se ponha fim a esta forma de escravatura moderna", aponta o organismo, em comunicado. De resto, o sindicato avança mesmo com um ultimato: "A FIFA tem três semanas para reagir a este pedido. No fim desse período, será aberto um processo no tribunal de Zurique".

Esta tomada posição surge depois de várias organizações terem acusado o Qatar de violar os direitos de mais dos 5.000 trabalhadores encarregados de construir as estruturas que vão acolher o Campeonato do Mundo de futebol.

A Amnistia Internacional publicou, em Março, um relatório que denunciaava abusos flagrantes sobre os funcionários destacados para o Estádio Khalifa. Maioritariamente originários do Bangladesh, da Índia e do Nepal, muitos não recebiam há meses e foram instalados em "espaços sórdidos". De acordo com o documento, a maioria viu os passaportes serem confiscados.

Um desses trabalhadores é Nadim Shariful Alam, de 21 anos, membro do ramo international do FNV e um dos signatários da queixa contra a FIFA, preparada por um sindicato que conta com mais de 1,1 milhões de sócios. A trabalhar no Qatar, o jovem pagou cerca de 4000 euros a um "angariador" de funcionários, segundo o organismo, e eis o que terá recebido em troca.

"Passou um ano e meio como escravo moderno a transportar carga, vivia em circunstâncias pavorosas com milhares de outros trabalhadores", denuncia a FNV, reclamando 10.000 euros de indemnização para Nadim. "O patrão decidia a vida dele, porque lhe reteve o passaporte". 

O sindicato, que assegura estar a agir em nome de milhares de outros trabalhadores, quer que a FIFA, na qualidade de organizadora do Mundial, "assuma as suas responsabilidades e ponha fim à exploração dos operários".

As condições de trabalho na construção dos estádios no Qatar tem constituído um dos pontos centrais da polémica desencadeada depois da atribuição da organização do torneio que decorrerá em 2022. O pequeno país do Golfo, que prometera em 2014 emendar a mão, projecta uma "imagem enganadora", segundo a Amnistia Internacional.

A FIFA confirmou nesta segunda-feira ter recebido a carta, mas assegurou que não foi intimada pela Justiça acerca deste tema. O presidente do organismo, Gianni Infantino, anunciara em Abril que um comité de acompanhamento seria colocado no terreno para averiguar as condições de trabalho.

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