EUA dizem que ataques a hospitais em Alepo podem ser crime de guerra

Ruas de Alepo continuam a ser palco de combates entre Exército e grupos rebeldes. Conselho de Segurança continua sem chegar a um entendimento para pôr fim às hostilidades.

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Vivem cerca de 275 mil pessoas nos bairros controlados pelos rebeldes em Alepo Abdalrhman Ismail / Reuters

Continuam os combates entre o Exército e os grupos rebeldes na cidade síria de Alepo, no mesmo dia em que o Conselho de Segurança da ONU se prepara para discutir duas resoluções que tentam pôr fim às hostilidades. Porém, as grandes potências mantêm-se firmes nas suas posições e não é esperado qualquer avanço diplomático.

Neste sábado, os principais combates concentraram-se sobretudo no centro da cidade, “especialmente no bairro de Boustane al-Bacha onde o Exército avança, no sul, em Sheikh Said, e na periferia norte, onde o regime tomou o bairro de Ouwayja”, disse à AFP o director do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), uma organização sedeada em Londres que tem uma extensa rede de informadores no terreno, Rami Abdel Rahmane. Durante a última noite os combates e os bombardeamentos não cessaram, diz a AFP.

Há já duas semanas que o Exército sírio, apoiado pelos bombardeamentos aéreos russos, intensificou a ofensiva para tomar o controlo de Alepo, cidade que chegou a ser um importante centro comercial antes da guerra civil. O objectivo é recapturar os bairros da zona leste, actualmente controlados pelos grupos rebeldes, onde ainda vivem cerca de 275 mil pessoas.

As últimas semanas têm sido particularmente violentas em Alepo. Centenas de pessoas morreram e várias infra-estruturas civis fundamentais foram destruídas, incluindo hospitais. O coordenador da Ajuda de Emergência da ONU, Stephen O’Brien, disse que os hospitais da zona leste de Alepo têm sido atacados “um a um”. Em apenas uma semana, o maior hospital daquela parte da cidade foi atingido em três ataques separados, denunciou a Sociedade Médica Síria Americana.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse que as denúncias “merecem uma investigação” para apurar a existência de “crimes de guerra”. “A Rússia e o regime devem ao mundo mais do que uma explicação sobre a razão de continuarem a atingir hospitais, instalações médicas e crianças”, acrescentou.

Esta não é, porém, a primeira vez que os ataques a hospitais em Alepo motivam denúncias de crimes de guerra. Na última reunião do Conselho de Segurança, no final de Setembro, a França chegou a comparar a situação na cidade no noroeste da Síria ao cerco de Sarajevo durante a guerra na Bósnia. Também o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, mencionou os ataques a hospitais nos bairros rebeldes de Alepo, embora sem nomear a Rússia.

Moscovo e Damasco defendem a ofensiva com a justificação de que os seus ataques se destinam a alvos de grupos que considera terroristas. Porém, a definição de grupo terrorista seguida pelo regime de Bashar al-Assad é muito alargada e inclui formações como a Jabhat Fateh al-Sham (a antiga Frente al-Nusra, próxima da al-Qaeda) como o Exército Livre Sírio, que é apoiado pelos EUA.

As divergências no terreno reflectem-se no campo diplomático. O Conselho de Segurança da ONU prepara-se para discutir em Nova Iorque durante a noite de sábado duas resoluções sobre a situação em Alepo – mas ambas estão já mortas à nascença. Uma proposta da França e da Espanha prevê uma restauração do regime de cessar-fogo e do fornecimento de ajuda humanitária e o fim dos bombardeamentos.

O Presidente francês, François Hollande, avisou que um país que se oponha à resolução "será desacreditado aos olhos do mundo", num aviso claramente dirigido à Rússia.

Moscovo já fez saber que vai vetar a resolução e decidiu avançar com uma contra-proposta em tudo semelhante à franco-espanhola, com a diferença de não incluir o fim dos bombardeamentos a Alepo. O embaixador britânico na ONU, Matthew Rycroft, anunciou que pretende vetar a resolução russa dizendo que se destina a “desviar cinicamente a atenção da necessidade de travar os bombardeamentos”. Desde o início da guerra civil síria, em Março de 2011, que a Rússia, apoiada pela China, já fez cair quatro resoluções acerca do conflito.

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