Processo “jogo duplo” continua em investigação

Operação desencadeada pela Polícia Judiciária em todo o país, em Maio deste ano, levou à detenção de mais de uma dezena de suspeitos de viciação de jogos e resultados.

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A polícia lançou, em Maio, uma operação contra a corrupção no futebol PP PAULO PIMENTA

A manipulação dos jogos e resultados (“match-fixing”) e as apostas ilegais são um dos principais dramas do futebol mundial e estão a manchar a imagem do desporto-rei, colocando em causa a verdade desportiva. Portugal não passa imune ao problema e, nos últimos meses, têm surgido casos envolvendo clubes da II Liga profissional. O mais recente originou a operação “jogo duplo”, conduzida pela Polícia Judiciária (PJ), em Maio deste ano, com a detenção de jogadores, dirigentes e elementos ligados ao negócio das apostas desportivas. O processo continua em investigação, com a recolha e consolidação de provas, aguardando também informações solicitadas junto da Interpol e Europol.

Na operação, desencadeada por denúncias que chegaram à PJ, nomeadamente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), em Março, foram detidas mais de uma dezena de pessoas. Entre os arguidos no processo, contam-se o presidente da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Leixões, Carlos Oliveira, assim como o seu director-desportivo, Nuno Silva, que deixaram, entretanto, de exercer funções no clube de Matosinhos. Na mira da PJ, estiveram ainda jogadores e dirigentes do Oliveirense e Oriental, assim como responsáveis da claque Super Dragões.

Os futebolistas detidos foram acusados de receberem subornos para provocarem a derrota das suas equipas, garantindo que apostadores, principalmente no mercado asiático, lucrassem com alguns resultados pouco prováveis. Uma das partidas alvo de suspeitas, terá envolvido o Oliveirense e o Oriental, com o triunfo da formação lisboeta, por 5-2.

“Neste processo investigam-se factos susceptíveis de integrarem crimes de corrupção passiva e activa na actividade desportiva, nele figurando como suspeitos dirigentes e jogadores de futebol, bem como outras pessoas com ligações ao negócio das apostas desportivas. (…) Em causa estão suspeitas de manipulação de resultados de jogos da II Liga de futebol, com recurso ao aliciamento de jogadores”, revelou na altura a Procuradoria-Geral da República, numa nota enviada para a comunicação social, em que confirma o âmbito nacional da investigação, numa operação que reuniu mais de 70 inspectores da PJ.

Preocupado com este e outros casos de suspeitas de “match-fixing”, o presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, Joaquim Evangelista, exigiu medidas urgentes.

“Todos os agentes desportivos devem retirar conclusões para o futuro. Assistimos de forma reiterada à desvalorização do fenómeno dos resultados combinados, potenciado por um mercado de apostas ilegais cada vez mais organizado e ardiloso. Se as dificuldades financeiras dos jogadores e dos clubes [o drama dos ordenados em atraso] propiciam o aliciamento por parte de organizações criminosas, a falta de regulamentação eficaz e de escrutínio da idoneidade dos investidores no futebol português compromete, em definitivo, os valores do desporto, entre os quais a verdade desportiva, traduzida na verdade dos resultados obtidos em campo”, concluiu.

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