Boas vibrações

Música vibrante do contrabaixista Gonçalo Almeida, desta vez ao leme de um novo trio europeu transgeracional.

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O original Vibrate In Sympathy, que dá nome ao disco, é dedicado a Ornette

Gonçalo Almeida, músico português nascido em 1978, vive na Holanda há vários anos e tem-se notabilizado como excelente instrumentista no contrabaixo e baixo eléctrico. O seu percurso, sempre à volta da improvisação, é marcado pelo trabalho na diversidade, praticando desde o jazz canónico a músicas próximas do punk e do metal. No universo mais próximo do jazz, o contrabaixista integra o trio LAMA (com Susana Santos Silva e Greg Smith) e o quarteto Tetterapadequ (que actuou este ano no Jazz em Agosto), além dos projectos Albatre e Spinifex - estes últimos apenas aconselháveis a ouvidos mais arrojados.

Este novo trio europeu, liderado pelo contrabaixista português, junta um saxofonista da sua geração, Tobias Klein, e um baterista veteraníssimo, Martin van Duynhoven, histórico percussionista holandês que tem acompanhado a evolução do jazz e da música improvisada ao longo da última meia década. Klein, saxofonista alemão nascido em 1976, mudou-se para Amesterdão em 1990 e, entre outros projectos, tem sido parceiro de Almeida no grupo Spinifex.

Dos nove temas que compõem o disco, sete são da autoria do saxofonista, três deles com dedicatórias a históricos saxofonistas (alto) inovadores: Ornette Coleman, Oliver Lake e Henry Threadgill. Já estas homenagens lançam pistas sobre aquilo que guia o grupo. Os músicos assumem que a música deste trio acústico é inspirada por todos os tipos de música aventureira dos últimos 50 anos. E, acima de tudo, está a improvisação.

O trio europeu trabalha temas bem desenhados, com linhas melódicas fortes, e fá-los crescer pela improvisação, pela dinâmica colectiva, pela comunicação. O primeiro destaque instrumental acaba por pertencer ao saxofonista, que puxa pelo grupo com vigor. O contrabaixista faz-se notar e bem, roubando a atenção por diversos momentos, não se ficando pela marcação rítmica, indo muito além. O baterista acaba por ser o mais discreto do trio, com uma intervenção precisa e sóbria.

Um registo que acaba por não se fixar num ponto único, alternando entre composições mais rígidas e temas mais abertos. Além dos originais do saxofonista, há também um tema de Almeida, Crime & Punishment (o título que cita Dostoievski já fez parte do último disco do trio LAMA), e ainda uma improvisação colectiva, Molenando, o tema mais fluído de todo o disco.

Fechando o álbum, o original Vibrate In Sympathy, que dá nome ao disco, não só é dedicado a Ornette, como soa perfeitamente a balada ornettiana (o sax alto de Klein acentua esse facto). A despedida é justa, celebrando aquele que foi um dos maiores revolucionários da história jazz e abriu caminho às novas músicas - como é o caso deste vibrante trio transnacional e transgeracional.

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