O mundo apostou num gestor de crises

Embaixadores russo, britânico e norte-americano, três dos cinco com direito a veto, defendem a aposta no antigo primeiro-ministro português.

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Guterres enfrenta uma agenda problemática como novo secretário-geral das Nações Unidas Reuters/RAFAEL MARCHANTE

A capacidade de gestor de crises e de diálogo é apontada pela comunidade e analistas internacionais como factor decisivo para que António Guterres seja votado, no início da próxima semana, novo secretário-geral das Nações Unidas.

“O melhor candidato disponível foi António Guterres”, sintetizou Vitaly Churkin, o embaixador da Rússia que, este mês de Outubro, preside ao Conselho de Segurança, quando nesta quinta-feira em Nova Iorque formalizou a opção. “É um homem experiente”, prosseguiu.

O diplomata reconheceu a Guterres “várias fortes qualidades” e destacou o seu protagonismo de uma década, entre 1995 e 2005, como Alto-Comissário apara os Refugiados da ONU. “É uma pessoa que fala com toda a gente, é uma pessoa aberta, estou contente por o termos escolhido”, referiu.

“O grande conhecimento dos assuntos mundiais e a sua viva inteligência vão servir-lhe para manter as nações unidas num período crucial”, comentou, por seu lado, Ban Ki-moon, referindo-se a Guterres.

A combinação das palavras do embaixador Churkin e de Ki-moon desenha o perfil desejado para o próximo secretário-geral das Nações Unidas. “O balanço dos seus dois mandatos à frente da ACNUR [Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados] foi marcado pela reforma da sua organização interna que permitiu reduzir em um terço o pessoal baseado em Genebra e assim aumentar a capacidade de intervenção de ajuda internacional”, assinala a agência AFP.

Um homem de acção

Entre os desafios que a ONU enfrenta, está a necessidade de maior dinamismo e desburocratização. “Temos muitas reuniões, viajamos muito, mas decidimos pouco”, foi como, em 12 de Abril, na sua apresentação em Nova Iorque, o então candidato fez o diagnóstico ao estado da organização.

A agência, que o refere como homem da acção, recorda “os seus gritos de alarme” à comunidade internacional para maior solidariedade para com os milhões de emigrantes que pedem asilo. As suas denúncias dos massacres das milícias pró-indonésias em Timor-Leste e a realização, na presidência portuguesa de 2000, da primeira cimeira entre a União Europeia e África são lembradas, como prova de iniciativa e capacidade de diálogo.

“Se temos ameaças transnacionais [terrorismo] e não temos à frente das Nações Unidas alguém capaz de mobilizar coligações e trabalhar melhor para as pessoas, será mais penoso, mais doloroso e mais disfuncional do que podemos suportar”, ponderou à BBC a embaixadora norte-americana na ONU, Samantha Power.

A capacidade de gestão, e de liderança, foi uma das características apontadas pelo seu colega britânico Matthew Rycort. “Do que precisamos é de um secretário-geral forte que leve as Nações Unidas a um elevado nível de liderança, e que tenha o poder e a autoridade moral quando o mundo está dividido em conflitos, sobretudo na Síria”, disse.

“Guterres falou em intensificar os esforços diplomáticos na Síria, Líbia e Iémen, que aliás também deve desenvolver para mitigar a perigosa rivalidade entre o Irão e a Arábia Saudita, implementar o acordo nuclear do Irão, aplicar sanções contra a Coreia do Norte e alimentar milhões de pessoas em risco pela fome”, comenta o editorial do The New York Times.

Uma agenda problemática. “A indicação [de Guterres] foi uma demonstração de unidade”, garantiu, ontem, Vitaly Churkin. Perguntado sobre a Ucrânia e a situação na Síria, com envolvimentos de Moscovo o embaixador russo foi pragmático ao admitir que a unidade demonstrada no Conselho de Segurança não significa que não existam “assuntos complicados2 que afectam vários países.

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