Ele e ela

A desigualdade que se via entre ele e ela, na sua forma de vestir, servia como parábola para a mentalidade da época.

A desigualdade que se via entre ele e ela, na sua forma de vestir, servia como parábola para a mentalidade da época — mentalidade miasmática, estendida no tempo e espalhada no espaço, sendo também tenaz e resistente à mudança pronta, como aliás acontece com todas as mais do que justas alterações sociais (ainda há países e Estados com pena de morte, ainda há fome, ainda há imparidade no acesso à justiça, à saúde, à educação, e mais não sei quantas outras desigualdades e escolhas sociais que todos percebem ser injustas ou infames, mas que vão sendo mantidas a bem da conservação de um certa ordem decrépita que beneficia uns poucos, embora se vislumbre, com flutuações exasperantes, uma mudança para melhor, que infelizmente se faz à velocidade indigna do caracol): ela vestira-se para agradar, ele vestira-se sem qualquer compulsão externa, com a despreocupação de quem se sente mais ou menos salvo da agressão exógena, da crítica, do constrangimento, do confrangimento, da maledicência. O empregado de mesa do restaurante deu-lhe o vinho a provar a ele, no final foi também a ele que entregou a conta para que a pagasse.

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