Polifonia feminina é candidata à UNESCO

Autarquia de S. Pedro do Sul lidera processo que engloba grupos do centro e norte de Portugal. Concelho tem os “Cantares de Manhouce” e Isabel Silvestre como representantes das vozes femininas.

Isabel Silvestre e o Grupo de Cantares de Manhouce
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Isabel Silvestre e o Grupo de Cantares de Manhouce DR
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O canto polifónico feminino em Portugal quer ser Património Cultural Imaterial da Humanidade. O processo de candidatura está a ser liderado pela Câmara Municipal de S. Pedro do Sul, município de onde é natural Isabel Silvestre uma das vozes mais conhecidas dos tradicionais “Cantares de Manhouce”. Trata-se de uma candidatura nacional que tem “à cabeça” o grupo da zona de Lafões e o primeiro passo foi dado com a assinatura de um protocolo que contempla ainda os grupos “Cramol”, “Segue-me à Capela” e “Sopa de Pedra”. O canto polifónico feminino é uma prática cultural da região norte e centro de Portugal. O processo está a ser acompanhado pela Universidade de Aveiro em colaboração com o Museu Nacional de Etnologia.

A submissão da candidatura sustentar-se-á na investigação desenvolvida no âmbito do projeto “Práticas musicais, contextos de memória e detentores da tradição: Levantamento de Património imaterial no concelho de S. Pedro do Sul”, a levar a cabo pelo Município de S. Pedro do Sul, reunindo desta forma documentação relevante para o processo de identificação e estudo desta manifestação cultural feminina.

“A ideia é começar por este levantamento aqui no concelho, que deverá levar a um ano. Depois, teremos de inscrever todo este património no arquivo nacional dos bens imateriais e só a partir daqui é que poderemos fazer uma candidatura à UNESCO”, explica Teresa Sobrinho, vereadora da Cultura na autarquia sampedrense. Como a polifonia feminina não se resume apenas às vozes de Manhouce, foram contactados mais grupos porque “isto é um desígnio nacional”.

A intenção de formalizar uma candidatura começou a ser desenhada há cerca de dois anos. Mas, como salienta Teresa Sobrinho, “chegámos à conclusão que para fazer as coisas bem feitas, teríamos primeiro de fazer um levantamento das tradições musicais do concelho, trabalho que até vai servir de base de um mestrado”.

“Cantar é botar fala”

Isabel Silvestre é a voz de Manhouce (canto a três vozes) e da polifonia feminina. É a intérprete de um tipo de cantar que, como a própria assume, “não se sabe muito bem de onde vem”. “Temos uma certeza. É de Manhouce e é único”. Cantar é “botar fala” e em Manhouce “toda a gente canta. Canta na missa, canta na lavoura, canta enquanto faz a comida. Cantar faz parte da vida das pessoas. Está no ser de Manhouce”. É uma tradição que, recorda a intérprete, começou a ganhar uma maior notoriedade em 1938 quando a pequena aldeia de Lafões se candidatou a aldeia mais portuguesa de Portugal.

“Nós temos gente que quer continuar esta tradição e a fazer trabalho”, afirma satisfeita Isabel Silvestre. E acrescenta: “esta candidatura, o mais que não seja, ajuda a que se façam ainda mais estudos sobre a voz feminina”. Na sua opinião, todo o processo vai contribuir para ser “fazer mais e melhor” neste campo.

“A candidatura serve para comprovar de que o canto é realmente único no mundo e para que não se perca. Para motivar os mais novos a continuar e a lutar pela sua defesa”, conclui a vereadora da cultura na Câmara de S. Pedro do Sul. Teresa Sobrinho refere que se trata de um processo que “não é fácil”, mas mantém a esperança que daqui a dois anos seja anunciada a classificação da polifonia no feminino como Património da Humanidade.

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