Economia deverá crescer pouco acima de 1% em 2016

"Este nível de crescimento só demonstra que temos de prosseguir a reposição de rendimentos e a criação de condições para poder haver investimento”, sublinha o líder do Governo.

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"Tudo converge para termos um crescimento acima de 1%" São José Almeida, Vera Moutinho, Sibila Lind, David Dinis

A economia portuguesa deverá crescer pouco mais de 1% em 2016, admite o primeiro-ministro, António Costa, em entrevista ao PÚBLICO.

“Tudo converge para termos um crescimento acima de 1%, mas esse nível de crescimento só demonstra que temos de prosseguir a reposição de rendimentos e a criação de condições para poder haver investimento”, sublinha o líder do Governo.

Mas o crescimento será pouco acima de 1%?

“Sim. Não creio que possa ser muito acima disso”, admite António Costa.

O Orçamento do Estado para 2016 tem por base uma previsão de crescimento de 1,8%, uma estimativa que o próprio Governo já tinha revisto para 1,4% em Julho no relatório que enviou à Comissão Europeia com os argumentos para travar as sanções por procedimento por défice excessivo.

Na altura, acontecimentos como o “Brexit” ou a contracção económica em Angola e no Brasil, parceiros importantes de Portugal foram os argumentos para justificar a revisão.

Em relação ao modelo de desenvolvimento para o País, o primeiro-ministro advoga que é preciso ganhar competitividade pelo valor e não pelos custos. E garante que é ilusória a ideia de que o país vai recuperar competitividade e as empresas produtividade à custa de baixos salários e da fragilização de direitos e à custa do Estado Social.

“Para ganharmos competitividade na economia e produtividade nas empresas, temos de ter uma estratégia”, sublinha António Costa, apontando como exemplo o que se passa em sectores como o calçado, o têxtil ou o agro-alimentar.

Estes sectores “investiram na formação profissional, na inovação, na modernização tecnológica, no design, na marca própria, no mercado externo. Ganharam competitividade pelo valor e não sobretudo pelos custos”, explica, reconhecendo que tem de se ter atenção aos custos, mas lembrando que Portugal não se pode voltar a “enganar no caminho” porque “enganarmo-nos no caminho é fazermo-nos regredir muito significativamente”.

Segundo o líder do Executivo, “perdemos muito do nosso potencial de crescimento ao longo dos últimos quatro anos porque a estratégia de baixos salários foi o que mais contribuiu para a emigração da geração mais qualificada que temos no país. Se continuarmos a dizer ao paÍs e aos jovens que não têm futuro, que não vale a pena, que não vão ter condições de trabalhar com dignidade em Portugal, estamos a convidá-los a partirem”.

Para António Costa o caminho deve ser o contrário. “Temos que dizer que não. Aquilo que vai permitir às nossas empresas serem mais produtivas é terem mais pessoal, mais qualificado”, sublinha, adiantando que “dinamizar a contratação colectiva, aumentar o salário mínimo nacional e devolver a dignidade ao trabalho” são condições essenciais “para termos empresas de melhor qualidade”.

O líder do Governo diz ainda que esta estratégia deve ser seguida em Portugal, mas também na Europa e lembra que o presidente do Banco Central Europeu, Mário Draghi, disse que é “tempo de aumentar os salários” até porque “a estratégia de empobrecimento colectivo não permitirá a Europa ser mais competitiva e não ajudará a fortalecer a economia europeia, a retirar a economia europeia da estagnação".

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