Ney Matogrosso, atento e premonitório

Ney Matogrosso está de volta a Portugal com Atento aos Sinais, com o mesmo ímpeto da estreia e a certeza de ter sido premonitório. Este domingo no Coliseu do Porto (21h30) e dias 4 e 5 no Casino Estoril (22h30).

Fotogaleria
Ney Matogrosso em A>tento aos Sinais MARCOS HERMES/AGÊNCIA LENS
Fotogaleria
Ney Matogrosso em A>tento aos Sinais MARCOS HERMES/AGÊNCIA LENS
Fotogaleria
Ney Matogrosso em A>tento aos Sinais MARCOS HERMES/AGÊNCIA LENS
Fotogaleria
Ney Matogrosso em A>tento aos Sinais MARCOS HERMES/AGÊNCIA LENS

Quando o espectáculo se estreou, o título era quase um manifesto: Atento aos Sinais. Os sinais da música, das artes, mas também os das ruas e do mundo. Mais de três anos após a estreia, Ney Matogrosso está de volta a Portugal com o mesmo ímpeto. Este domingo no Porto, no Coliseu (21h30) e dias 4 e 5 no Casino Estoril (22h30). Com o mesmo ímpeto e também com admiração pelo que se passou entretanto. “Vai no quarto ano. Nunca fiz tanto tempo um show. E por toda parte está tudo lotado”, diz Ney. Além disso, as suas palavras anteciparam muito do que se foi passando no Brasil: “Na verdade foi meio premonitório. Quando eu o fiz ainda não tinha acontecido aquele jogo fatídico, quando o povo veio todo para a rua. E isso que eu dizia aconteceu. Essa foi a primeira vez que eu fiz um trabalho conectado com o momento e com o mundo. Nunca fiz isso, ficava na minha. Claro que numa canção ou outra alguma crítica existia, mas este trabalho é todo ele conectado com o agora. E continua.” Por isso ele olha para a situação no Brasil como alguém que pediu “atenção aos sinais” e teve resposta clara.

"Um tiro no escuro"

“O Brasil está literalmente rachado ao meio, dividido. E isso nunca aconteceu aqui. Por causa de uma coisa ridícula como a política. Não consigo olhar mais para ela como uma via de transformação. O que a gente vê é que os políticos só querem a chave do cofre. Descaradamente. Por outro lado, eles têm mais receio do povo, porque agora está todo o mundo prestando atenção a tudo. E agora eles têm de enfrentar a opinião pública.” Já a justiça lhe merece uma observação mais abonatória, devido à sua influência social: “É a justiça que está a mudar as mentalidades. Mas ainda estamos na metade do caminho.”

O que vai suceder agora? “É um tiro no escuro. Ninguém sabe o que é que isso tudo pode dar. O Temer pode ficar ou não ficar, mas não pode errar, porque existe um grande movimento popular contra ele. Tem de colocar a economia funcionando, as instituições funcionando, para tirar o Brasil desse poço sem fundo onde nós fomos parar. Se fizer isso, ainda terá alguma chance. Senão, não terá mais chance nenhuma na vida dele.”

"Será que a fonte secou?"

Deixando de lado a situação política, Atento aos Sinais absorveu-o completamente. E fez soar um alarme. “Fiquei estes três anos sem inspiração nenhuma. Eu não sou assim, quando estreio um show já estou trabalhando noutro. Ora isto me deu uma insegurança que perguntei p’ra mim: será que a fonte secou?” Não, não secou. Embora ele já visse aqui o encerramento de um ciclo. “Já estou começando a seleccionar repertório, a ouvir algumas coisas, no extremo oposto, para um novo disco. Não estou preocupado em lançar nada, embora já tenha músicas e algumas canções inéditas. Mas quero cantar só o que eu gosto. O meu próximo disco será diferente, embora seja pop também.”

A mais recente gravação de Ney Matogrosso é o registo ao vivo de Atento aos Sinais, editado em CD/ DVD (Sony), edição que lhe agradou particularmente.“Há alguns DVD que acho mal feitos, mas deste gosto muito. E a pessoa que o fez [Felipe Nepomuceno] tomou umas liberdades artísticas que me agradaram muito, como dar um movimento do corpo em detrimento de outro, não é meramente uma cópia daquilo que aconteceu.”

A mesmo (boa) banda

Nos palcos, Ney terá a seu lado praticamente a mesma banda com que actuou em Portugal em 2014, na estreia de Atento aos Sinais, à excepção de André Valle, que substitui agora Maurício Negão na guitarra. Os restantes mantêm-se inalteráveis: Sacha Amback (direcção musical e teclados), Marcos Suzano e Felipe Roseno (percussões), Dunga (baixo), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone). Tal como em 2014, deverão ouvir-se no final três temas que não faziam parte do alinhamento inicial: Amor, dos Secos & Molhados; Poema, de Cazuza; e Ex-amor, de Martinho da Vila.

Sugerir correcção
Comentar