Sánchez perdeu votação no PSOE e demitiu-se

Reunião do comité federal em Madrid mostrou uma profunda fractura entre os socialistas espanhóis. A grande vencedora é Susana Díaz.

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Os críticos de Sánchez, que consideram que ele cessou as suas funções após a demissão de 17 dos membros da direcção Susana Vera/REUTERS

Por 133 votos a favor e 107 contra, o comité federal do PSOE votou contra a realização do congresso extraordinário proposto pelo secretário-geral Pedro Sánchez, no fim de 11 horas de reunião marcadas por gritos, acusações e questionamentos de legitimidade de Sánchez e dos barões do partido.

"Sempre achei que o PSOE tinha de dar uma alternativa, mas infelizmente não foi possível", declarou Pedro Sánchez, pouco depois de ter sido conhecido o resultado. "Para mim foi um orgulho e apresento a minha demissão. Foi uma honra."

A grande vencedora é Susana Díaz, a presidente da Junta da Andaluzia, uma política que já formou alianças com outros partidos para governar a nível regional, como o Podemos. É considerada mais pragmática, uma versão moderna do ex-primeiro-ministro Felipe González. Talvez alguém capaz de deixar passar um executivo liderado pelo Partido Popular, em troca do afastamento de Mariano Rajoy, desbloqueando a situação política em Espanha, que continua sem Governo desde as eleições inconclusivas de 20 de Dezembro de 2015.

"Impõem-se no PSOE os partidários de deixar o PP [Partido Popular] governar", reagiu de imediato no Twitter o líder do Podemos, Pablo Iglesias.

Pedro Sánchez tinha prometido afastar-se se não fossem aceites as suas propostas para convocar eleições primárias para o cargo de secretário-geral, a 23 de Outubro, e um congresso extraordinário, a 12 e 13 de Novembro, após as derrotas eleitorais na Galiza e no País Basco, as últimas de uma série de seis derrotas. 

Vai agora ser nomeada uma comissão gestora do partido, para dirigir o PSOE até ser convocado um congresso em que será eleita uma nova direcção. Susana Díaz impõe assim o seu plano inicial, que era o de que se nomeasse esta comissão, depois de ser votado um relatório apresentado por três dos cinco elementos da comissão de garantias, o órgão jurisdicional do partido. Estes elementos, próximos dos críticos de Sánchez, tinham considerado que, de acordo com os estatutos do PSOE, a direcção do partido tinha sido desfeita quando 17 dos 38 membros da comissão executiva federal se demitiram esta semana.

Os críticos de Sánchez achavam que ele já não estava em funções. A votação sobre a realização do congresso acabou por ser de braço no ar, depois de uma tentativa de o fazer por voto secreto, por parte de Sánchez e dos seus apoiantes, que quase chegou a vias de facto, quando foi colocada uma urna na sede dos socialistas, em Madrid, onde se realiza a reunião do comité federal, o órgão máximo do PSOE.

Os críticos consideraram que esta urna não cumpria os requisitos legais. Entre muitos gritos, choros e gritos de "demiteeeeeeee!", como descreve a publicação Confidencial.com, a urna acabou por ser retirada, relata a agência Europa Press, depois de uma intervenção de Susana Díaz, que acabou  a chorar, dizendo “estão a matar o PSOE”.

Os críticos avançaram então com um abaixo-assinado para uma moção de censura contra Sánchez. Teriam de obter o apoio de 20% dos cerca de 250 delegados presentes na sede do PSOE em Madrid, para a poderem apresentar, e depois teria de ser aprovada por maioria absoluta, diz o El País. Mas a mesa do comité federal não a aceitou.

Legitimidades

A reunião, que devia ter começado às 9h00 deste sábado, esteve bloqueada durante todo o dia, com sucessivos intervalos e discussões sobre a legitimidade de cada uma das partes.

Pedro Sanchéz propôs que regressassem às suas funções os 17 membros da direcção que se demitiram, como tentativa de desbloqueio. Mas a proposta não foi aceite por Verónica Pérez, presidente deste órgão do PSOE e considerada "braço-direito" de Susana Díaz.

Susana Diáz contava à partida com o apoio de ex-líderes como Felipe González – que apelou à saída de Sánchez – e José Luis Rodriguez Zapatero, tal como as dirigentes das federações de Valência, Extremadura e Castilla-La Mancha, para além da Andaluzia. 

No caos que foi a reunião do comité federal, os pratos da balança começaram a ficar mais leves do lado de Sánchez. José Antonio Pérez Tapias, ex-candidato à liderança do PSOE, abandonou a sede dizendo que o partido "está destruído". O dirigente andaluz apoiava Sánchez, mas saiu da sede desgostoso com a forma como este tentou iniciar a votação sobre o congresso extraordinário "de formal anómala". 

Num primeiro momento, só os dirigentes do Podemos e da Esquerda Unida se pronunciaram sobre a queda de Pedro Sánchez. Nem Mariano Rajoy, do Partido Popular, nem Albert Rivera, do Cidadãos, reagiram.

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