Numa sala de cinema, o Porto surge ventoso, há dragões pelo ar e o Douro voa em gotas de água

Há uma nova forma de olhar o Porto, na zona de Miragaia, agora através de sensações, como sentir o vento, água ou ver bolas de sabão a rebentar no ar. É assim no Look at Porto, uma sala de cinema 5D, que mostra a cidade de forma diferente. O projecto vai chegar ao resto do país em 2017.

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Adriano Miranda
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“Voar” sobre a cidade do Porto em velocidade quase vertiginosa para visitar os principais monumentos históricos, como a Torre dos Clérigos ou o Palácio da Bolsa. E vivenciar uma montanha russa de emoções, desde um friozinho na barriga até à frescura do vento no corpo e pingas de água do rio Douro ou do mar a salpicar o rosto. Estas são algumas das experiências que o cinema a cinco dimensões (5D) do novo espaço Look at Porto, em Miragaia, “único no país”, proporciona aos visitantes, como David, 10 anos, que “até se quis levantar da cadeira, em movimento, para agarrar as bolas de sabão que apareceram de repente”.

Tão cedo David não vai esquecer esta “memorável” experiência: “A cadeira movimentava-se muito e até massagens senti no corpo! Mas quando o dragão (símbolo da cidade portuense) me tocou de raspão na perna, é que foi! Não estava nada a contar”, diz entre risos. 

A mãe Ana Queirós sorri e lembra que viveu “os dez minutos do filme  sempre em suspense, sem nunca imaginar o que se seguiria depois”. E foram muitas as sensações, continua, “desde parecer que estava mesmo a voar, tal como o dragão que aparece quando menos se espera, até sentir a cadeira a tremer e nós também durante a pequena e célere viagem de eléctrico no final do filme”. 

O filho solta uma gargalhada e garante que sai dali mais enriquecido culturalmente, porque aprendeu “mais coisas sobre o Porto”, nomeadamente sobre a Torre dos Clérigos, um ex-libris da cidade, ou o Palácio da Bolsa onde, “por incrível que pareça”, diz a mãe, os dois nunca foram. Ficou a curiosidade para os visitar depois de verem o filme do Look at Porto, um projeto de quatro sócios que demorou ano e meio a implementar, e que abriu ao público no passado dia 16 nos números 6 e 8 da Rua da Ancira, num bairro histórico de Miragaia, do outro lado da rua da Alfandega. 

O mesmo bairro cuja comunidade os sócios do projecto convidaram a viver as experiências, na sala de cinema 5D, “única e original no país, com uma emocionante viagem sobre a cidade que capta a alma do Porto como nunca ninguém o viu ou sentiu antes”, promete Luís Pedro Almeida, um dos quatro sócios do projecto. Esta foi a forma que os mentores encontraram para se integrarem na comunidade local e serem bem recebidos pelos moradores que se “sentiram muito orgulhosos por terem esta grande novidade na rua”, garantem os promotores.

O filme passa numa sala de 18 lugares, em cadeiras com movimento, num ambiente simulador, explorando sensações como o aroma, o toque, o vento, a água, e com música original do ex-vocalista dos Ornatos Violeta, Manel Cruz. 

Sentado e com as mãos seguras nos braços da cadeira, e de óculos 3D postos, o espectador começa, assim, a ver a cidade com outro olhar, desde a Câmara Municipal do Porto aos barcos rebelos e pontes no rio Douro, passando pela Casa da Música, estádio do Dragão, parque da cidade até desembocar na zona da Foz do Douro e das suas praias. Termina com uma viagem vertiginosa de eléctrico junto à margem do rio Douro, numa nova forma de Look at Porto que promete ser sempre actualizada. 

O valor do ingresso nesta viagem é de dez euros.

Expandir para resto do país 

Luís Pedro Almeida quer expandir este projeto piloto do Porto, durante o ano de 2017, para o resto do país, incluindo as ilhas da Madeira e Açores, além de outras localidades estrangeiras. Já estão a ser desenvolvidos os conceitos e algumas destas marcas — todas elas da marca-mãe Look my Citie — já estão registadas, como a de Lisboa.

Mas como surgiu esta ideia? Os sócios resolveram juntar sinergias e lançarem-se nesta aventura depois de um périplo pelo estrangeiro onde viram alguns projectos do género, mas “nenhum como este”, asseguram, e que serviram de inspiração para o lançamento. A ideia amadureceu e 18 meses depois, o espaço abriu as portas depois de uma reabilitação do edifício onde em tempos funcionou um armazém de vinho. 

Aqui têm ainda uma loja de merchandising com produtos da marca Look at Porto à venda e, no futuro, prevêem abrir, no andar superior, uma galeria de arte e um local para organização de eventos.

Desde que abriu ao público, o espaço tem sido “um sucesso”, garante, atraindo centenas de pessoas, ainda que muitas delas não saibam bem ao que vêm quando entram no espaço. Mas depois “a maioria fica surpresa e fascinada” e quer voltar a repetir a experiência, como o David e a mãe Ana Queirós, que o fizeram minutos depois, mas desta vez em português porque tinham visto a versão inglesa que é a oficial, tendo em conta que a maioria dos visitantes é estrangeiro. Também há a versão em espanhol e em francês.
À saída da sala, o actor Luís Trigo conta que “ouviu falar da novidade e quis ver para crer o conceito inovador para o turismo que mostra muito do que é a cidade, as suas gentes e história”. E valeu a pena? “Então não”, pergunta, defendendo que ainda pode ser mais explorado. 

Surpreendida também ficou a turista Lili Johnson, “sobretudo com a sensação de que estava a voar sobre a cidade tal como o dragão, além de todas as outras experiências que vivenciou, como os cheiros”. Ao lado, a irmã Annie Johnson achou “o filme muito realista e, por isso mesmo, repetiria a experiência” sem pestanejar. 

Também o canadiano Steve Hardy, de visita ao Porto, “sentiu a água do mar na cara nesta memorável experiência” que o leva a querer visitar os monumentos que viu no filme. E pergunta, curioso: “As filmagens foram feitas com recurso a drone?”. Luís Pedro Almeida anui com a cabeça prontamente e acrescenta que ainda recorreram a um helicóptero. Entusiasmado, o canadiano aconselha-o a tornar o espaço “um cartão-de-visita da cidade”, ou seja, a ser o primeiro local a visitar para os turistas terem depois uma ideia do que ver na cidade. 

O que vai ao encontro do que os mentores deste projecto pretendem: “Ao saírem da sala de cinema 5D, as pessoas saem com outra visão do Porto e querem ir em busca de conhecer ao vivo os locais que viram no filme ou até provar um copo de vinho do Porto”. Ou ainda, continua Luís Pedro Almeida, “entrar no mundo mágico da Livraria Lello, na Rua das Carmelitas, que é considerada uma das mais belas do planeta”. 

A livraria é, aliás, um dos primeiros espaços da cidade a surgir no filme, com os espectadores da sessão a subirem, num ápice, a emblemática escadaria e a verem a livraria que inspirou a escritora K. Rowling a escrever os primeiros rascunhos da saga Harry Potter. 

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