Uma noite longa com Antoine D’Agata

Fotógrafo da Magnum Photos desde 2004, Antoine D’Agata passou as últimas três décadas a retratar a decadência humana

Foto
Antoine D’Agata

“É uma parte inseparável da prática fotográfica, num certo sentido, agarrar-se à existência ou ao risco”, introduz a exposição "The Long Night", da autoria do polémico fotógrafo francês Antoine D’Agata, inaugurada na Barbado Gallery, em Campo de Ourique, em Lisboa, no dia 15 de Setembro.

Fotógrafo da Magnum Photos desde 2004, Antoine D’Agata passou as últimas três décadas a retratar a decadência humana. Na fronteira entre a exploração da fotografia e o de uma realidade invisível, "The Long Night" estabelece no espaço a brutalidade dos corpos e dos sentimentos deixados ao abandono.

Captadas em contextos extremos, confusos, excessivos e duros, as imagens evidenciam figuras humanas na sua forma mais crua de sacrifício: da superficialidade do orgasmo à morte. Na sua disformidade, representam fragmentos de uma era contaminada pela obsessão.

A intensidade do trabalho de D’Agata atinge o seu auge no momento em que o fotógrafo passa literalmente de observador a participante para relatar na primeira pessoa o que a luz do dia não quer mostrar: o sexo, as drogas, a prostituição. D’Agata estabelece uma relação intima com o mundo, envolvendo-se na situação que ele próprio documenta.

Para além da circunstância, são os movimentos e a perspetiva retirada da sua própria experiência que constroem a imagem. A exibição deste universo obscuro assume também um carácter de intervenção — político, social e estético — revelador de uma sociedade autodestrutiva e sem regras, que é verídica, embora muitas vezes afastada de qualquer análise.

A brutalidade da sua forma e a ligação entre os corpos e os sentimentos perdidos envolvem o observador numa viagem que é tudo menos imaginária, convidando à reflexão não só sobre o estado actual do mundo, como também dele próprio enquanto interveniente na sociedade.

Um pacto com a realidade

Aqui não existem símbolos óbvios e fáceis de assimilar nem questões ilusórias. O fotógrafo assume o risco e estabelece um pacto com esta realidade: só a documenta se nela poder ser integrado, desafiando assim não apenas a sua própria vida como também a do observador quando confrontado com a sua obra.

Embora não seja ele a personagem principal, existe um “eu vi e eu vivi isto”. Deste modo, a exploração de d’Agata ultrapassa a previsível e comum definição para resumir-se apenas à linguagem que é a do corpo perdido. Qual seja o tempo, na obra artística de Antoine d’Agata aqui exposta não existe lugar para a felicidade, mas para o simples desejo de existir. A exposição está patente na Barbado Gallery até ao dia 9 de novembro.

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