Sandra Correia: “Aprendi a criar o meu negócio”

Sandra Correia quis ajudar a empresa de família, ligada à cortiça, “havia ali muito a fazer”, e acabou por criar a Pelcor. O Programa Avançado de Empreendedorismo, Gestão e Inovação (PAEGI) da Universidade Católica permitiu-lhe “profissionalizar-se”. Agora sente que está na hora de voltar à escola

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Filipe Farinha

A principal razão pela qual ingressei no Programa Avançado de Empreendedorismo, Gestão e Inovação (PAEGI), da Universidade Católica, em 2005 (PAEGI) foi porque não queria parar de estudar. Tinha vindo para o Algarve, em 1996, para a Nova Cortiça, empresa da família, ajudar o meu pai. A empresa fabricava rolhas para o champanhe francês e era conhecida lá fora por isso. Sentia que havia ali muito a fazer.

Tinha-me licenciado em Comunicação Empresarial, no Instituto Superior de Comunicação Empresarial e comecei por trabalhar na companhia de Seguros Tranquilidade, em Lisboa. A experiência na seguradora durou muito pouco tempo, mas foi uma boa lição de vida.

Não me deixavam usar calças de ganga, tinha de ir de fatinho. Lembro-me que na primeira entrevista que fiz a um potencial cliente e fechei o primeiro seguro fui ter com o meu patrão, na altura, dando-lhe conta do resultado alcançado. “Isso é coisa de principiante”, comentou, desvalorizando. Na segunda entrevista e na terceira, repeti o êxito. Voltei a ir ter com o patrão, mas já de calças de ganga, para lhe dar a notícia dos contratos. “Vem de calças de ganga?”, perguntou.  “Venho, e vou-me embora - faça-me as contas”. Eu sempre fui um pouco irreverente e o profissionalismo não se deve avaliar pelo modo de vestir.

Há uma outra razão para ter regressado a São Brás de Alportel, onde nasci. Sou a terceira geração de uma família que se dedica ao negócio da cortiça, e desde miúda que me lembro de lidar com a cortiça. Na minha licenciatura, as minhas áreas eram marketing, publicidade, jornalismo e relações públicas. Logo, não haveria melhor lugar para pôr em prática aquilo que tinha aprendido do que a minha própria empresa.

Estávamos na pré-história da informática. Na altura, a empresa só tinha um computador, nem se sabia muito bem o que eram os computadores. Foi também nesse período que decidi ir tirar o mestrado, em Ciências Económicas, na universidade de Huelva, em Espanha – ainda tenho a tese de doutoramento para acabar, mas tenho até ao fim da vida para a concluir.

Com a criação da Pelcor, em 2003, dentro da Nova Cortiça, sentia a necessidade de apreender as novas estratégias e o que era ser empreendedora. Não sabia fazer um plano de negócios e isso aprendi no PAEGI. O curso ensinou-me como: aprendi a criar o meu negócio e fui encontrar pessoas que partilhavam idênticos objectivos. Na Pelcor desenvolvemos novas aplicações em cortiça, no calçado, no vestuário, nos acessórios e corri vários vários países a promover o novo mundo da cortiça.

Em 2009, oferecemos uma colecção de malas a Madonna. A iniciativa ajudou-nos a abrir a “pele de cortiça” ao mundo da moda, a mercados que vão da Rússia aos Estados Unidos, passando pelos países nórdicos. Em 2010 integrámos a exposição que o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMa) dedicou aos produtos portugueses, onde foi dado especial relevo à cortiça, apresentada como produto amigo do ambiente. Em 2011, recebi o Troféu da Melhor Empresária da Europa 2011, atribuído pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho Europeu das Mulheres Empresárias.

Voltando ao curso, lembro-me que o PAEGI era muito cansativo, as aulas eram dadas de forma intensiva, sexta-feira ao fim do dia e sábado o dia todo. Trabalhávamos muito, com muita prática. Por exemplo, tínhamos um tema, vinha o professor, dava a teoria, e depois trabalhávamos os aspectos práticos. Os resultados eram apresentados no próprio dia. Havia muita intervenção, nós eramos muito participativos. Na altura, ainda usávamos os acetatos.

Hoje, quem faz uma licenciatura em gestão ou um mestrado já sabe fazer um plano de negócios, há 20 anos isso não acontecia. Mas eu sentia que a minha visão e os meus objectivos situavam-se muito à frente do tempo em que eu estava então. O curso, além de me ter permitido a actualização de conhecimentos, ajudou-me sobretudo na parte técnica do negócio, foi uma maneira de me profissionalizar.

Recordo ensinamentos importantes dos professores – um deles, americano – sobre o modo como as marcas tinham, de forma muito simples, feito expandir os negócios. E guardo muito boas memórias desse período, dos colegas que lá encontrei, como o Pedro Oliveira, [Professor Associado da Católica Lisbon School of Business] – o grande impulsionador do PAEGI. Na altura, era professor mas já muito ligado ao empreendedorismo.

O curso, inovador, tinha arrancado dois anos antes. Era um curso jovem, como nós. Tínhamos entre os 30 e os 35 anos, o que permitiu uma grande aproximação. Um colega da altura, Joaquim Lima, que eu já conhecia, é o director-geral da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR), e mantemos amizade. Ao nível do percurso académico, todos vínhamos de áreas diferentes. Com esta formação, percebi que o facto de eu pensar ‘fora da caixa’ era normal.

Quando acabei a licenciatura, em 1994, lembro-me de ter pensado: “Só sei que nada sei, como Sócrates, o filósofo”. Estava ansiosa por pôr em prática o que tinha aprendido, sobretudo ao nível do marketing (comunicação interna e externa) aqui na empresa. Todas as formações são importantes e a do PAEGI foi mais relevante porque me permitiu ter acesso a conhecimentos de base que não tinha, ainda que a maior escola seja a própria vida. Porém, agora sinto necessidade de me actualizar em relação às novas tecnologias, potenciar o negócio através das redes sociais. E ir para a escola, outra vez.

A partir de depoimento recolhido por Idálio Revez

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