A ajuda humanitária já está a arder

Arde o campo de refugiados de Moria, ardem os camiões da ONU na Síria: podemos falar em paz?

Ninguém perguntou (como Hitler no seu bunker quando já se encontrava perdido: "Paris já está a arder?"), nem foi preciso. Enquanto na Assembleia Geral da ONU se abordava a situação dos refugiados e a Síria na mais plácida das rotinas, soube-se pela imprensa que um incêndio destruíra o campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos, e que cinco mísseis atingiram uma coluna de camiões que ia distribuir alimentos em zonas sitiadas da Síria, aproveitando o cessar-fogo. Duas dezenas de mortos (civis) e 28 camiões destruídos levaram a ONU a suspender de imediato a ajuda humanitária à Síria. Mas o essencial mantém-se, por entre os escombros, irresolúvel: a guerra na Síria e a situação, a cada dia que passa mais insustentável dos refugiados que se vão amontoando na Europa.

O incêndio de Moria devia servir de alerta (mais um!) para a situação dos campos, que vão albergando gente para lá das suas capacidades físicas, tornando-se potenciais bombas ao retardador. A Grécia e a Itália continuam a receber, em vagas sucessivas, fugitivos às guerras (com a da Síria à cabeça), o acordo entre a UE e a Turquia está parado e os países europeus não se entendem entre si quanto ao caminho a dar aos refugiados no seu solo. Na Síria, o bombardeamento da coluna de ajuda humanitária é mais um rude golpe no que se pretendia uma trégua. O governo sírio autorizara a distribuição de ajuda, mas podem ter sido aviões sírios ou russos a bombardear os camiões. Antes, soldados sírios foram mortos por bombas dos EUA devido a um "erro de coordenadas". Retaliação? Um erro em cima de outro erro? Assad não escapa à suspeição: tem os meios e o motivo. A paz só lhe interessa como fachada, porque o seu objectivo, como já publicamente disse e repetiu, é retomar todo o território em poder dos rebeldes. A paz dificulta-lhe o caminho. Por isso ela arde, tal como a ajuda humanitária. E não há bombeiros para apagar fogos assim.

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