Ele aprendeu a fotografar na prisão

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Donato Di Camillo foi detido pela primeira vez aos 12 anos. O motivo: furto. Não teve uma infância fácil enquanto filho de imigrantes italianos em Nova Iorque, Estados Unidos da América. Era um miúdo tímido e foi, durante anos, vítima de "bullying". "Eu vivia isolado do resto do mundo", disse ao P3, em entrevista via Skype. "As revistas que o meu pai trazia do lixo - a National Geographic, a Readers' Digest - aguçaram a minha curiosidade pelo mundo exterior." Donato fala pouco sobre os motivos que o levaram a cumprir seis anos de prisão no estado onde reside, refere apenas que, apesar do evidente lado negativo da cárcere, aqueles foram anos de grande relevância no seu percurso, anos "formativos", adjectiva. "Li muito sobre fotografia nessa altura. Enviavam-me revistas e lia livros da biblioteca da prisão - foi assim que conheci os trabalhos de Diane Arbus, Eddie Adams, Robert Cappa, Cartier-Bresson. Fascinaram-me. Antes nem sequer sabia que existia algo como 'fotografia de rua'. Quando descobri, foi uma grande revelação. Mas sempre tive muito claro, não quero ser como ninguém. Eu conheço as ruas, por isso irei fotografar as ruas." Sempre se sentiu um marginal e fotografa pessoas que lhe são semelhantes. "É essa a minha assinatura." O trabalho de Bruce Gilden é, assumidamente, uma inspiração. "Quando vi a sua abordagem, pensei 'este homem é um louco'. Adoro a forma como executa o seu trabalho. É ávido, ambicioso... Eu costumava ser assim, conseguia sempre o que queria. Agora utilizo essa energia para o bem, fotografo." Ser o "mauzão" tornou Di Camillo "street-smart", uma palavra de difícil tradução mas que pode definir-se como uma capacidade perceptiva apurada em contexto social. "Fotografar nas ruas implica saber 'ler' comportamentos, linguagem corporal, intuir a proximidade de perigo, e a minha vida nas ruas - o facto estar envolvido no mundo do crime, de ser de uma etnia diferente -permitiu-me desenvolver essas capacidades. São essas que me indicam se é seguro ou não fotografar determinada pessoa. Quando alguém se aproxima, olha para a minha câmara, a uma distância de três metros, eu sou capaz de prever o que irá acontecer. Eu sou um tipo grande, normalmente as pessoas não tentam bater-me... Já me atiraram coisas. [riso] Uma vez fui assaltado com uma navalha de ponta e mola." Donato saiu da prisão em 2014 e desde então fotografa compulsivamente. Admite sentir ainda uma enorme dificuldade em "ser uma pessoa normal, ter um emprego regular, das nove às cinco". Afinal, "costumava roubar para sobreviver", refere. A Fotografia surge como uma nova oportunidade na sua vida. O seu trabalho tornou-se viral no mês de Setembro de 2016, com publicações e entrevistas para a American Photo, Huffington Post, Stern, Feature Shoot, entre outros. "Sinto-me um afortunado por poder dar a conhecer o meu trabalho a tanta gente. Vou aproveitar os meus quinze minutos de fama e tentar transformar a Fotografia numa carreira."