Extrema-direita marca pontos e Merkel perde votos em Berlim

Partido da chanceler tem o pior resultado de sempre nas eleições da cidade. Alternativa para a Alemanha (AfD) garante entrada no parlamento da capital.

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O presidente da câmara de Berlim, o social-democrata Michael Müller, com a mulher Odd ANDERSEN/AFP

O partido de Angela Merkel teve a sua votação mais baixa de sempre na cidade-estado de Berlim, nas eleições deste domingo: 18% dos votos. O partido anti-imigração de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) conseguiu entrar no Parlamento estadual, obtendo cerca de 11%, dizem as projecções após o encerramento das urnas.

Os sociais-democratas do SPD ganharam, tal como em 2011, com 23%, mas os maus resultados da CDU não permitem que se mantenha no poder a coligação destes dois partidos. Para governar, o presidente da câmara social-democrata Michael Müller terá fazer uma aliança com outros partidos – provavelmente Os Verdes, que ficaram em terceiro, com 16,5%. Mas o partido Die Linke, que agrega antigos comunistas a outros sectores da esquerda, deverá ter um resultado equivalente.

O Partido Pirata, que em 2011 tinha entrado no parlamento berlinense, com 8,9% dos votos, desaparece desta vez. E o Partido Democrático Liberal (FDP), que nas últimas eleições não tinha conseguido o mínimo de 5% dos votos para conseguir representação parlamentar, regressa este ano ao parlamento, com uma votação que se espera que atinja 6,5%.

Para a CDU de Merkel, é a segunda desfeita eleitoral em duas semanas, depois de ter sido ultrapassada pela AFD, no início de Setembro, no estado-federado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental – que, para agravar a humilhação, sempre foi o bastião eleitoral da chanceler alemã.

Estes resultados são vistos como uma punição do eleitorado, insatisfeito com os resultados da política de abertura de portas aos refugiados no ano passado. A AFD, com um discurso claramente racista, tem sabido capitalizar o descontentamento, sobretudo na Alemanha de Leste, pouco habituada a lidar com fenómenos de migração. O resultado disto é que o partido com três anos, que começou por ser anti-euro e agora é contra a imigração e contra o Islão, embora não esteja no Bundestag  conseguiu já entrar em dez parlamentos regionais.

A entrada no parlamento berlinense da AFD, bem como em alguns municípios dos subúrbios da capital alemã, tem um forte valor simbólico: esta metrópole cosmopolita tinha até agora resistido às tendências populistas e xenófobas. O presidente da câmara não tinha hesitado em afirmar, durante a campanha, que se a AFD tivesse mais que 10% dos votos, “isso seria interpretado no mundo inteiro como um sinal do renascimento da extrema-direita e dos nazis na Alemanha”, relata a AFP.

Ainda que nos últimos 15 anos a CDU não tenha tido grandes resultados eleitorais em Berlim, este novo revés nas urnas vem aumentar as interrogações sobre se estará a chegar ao fim a vida política da chanceler – ela ainda não anunciou a sua recandidatura para as eleições legislativas do Outono de 2017.

Mas a CDU também não tem outra figura agregadora, alguém que se destaque como possível rival de Merkel. No entanto, quando ela se apresentou como sucessora de Helmut Kohl, o seu mentor político, a candidatura também foi vista como uma surpresa.

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