Nunca houve tanta televisão como em 2016 – os Emmys escolhem hoje a melhor

A Guerra dos Tronos, The Americans, Veep ou O Caso de O.J. e Mr.Robot competem na noite que espelha a produção frenética dos EUA – chamam-lhe "peak TV" e a televisão americana aproxima-se do cume.

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A Guerra dos Tronos HBO
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Mr.Robot
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Master of None Netflix
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Veep HBO
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The Americans

Podemos escolher a abordagem Woody Allen, que não acredita que a arte possa ser julgada, ou a abordagem dos críticos, que nos últimos anos não acreditavam que os Emmys soubessem o que é boa televisão. Podemos falar de como os Emmys de 2016 gravitam em torno do poder e da raça – A Guerra dos Tronos, The Americans, Veep, Mr.Robot, O Caso de O.J. - em ano de eleições nos EUA. E podemos apostar que, no dia dos 68.ºs Emmy, nunca houve tanta televisão. Este ano, concorrem séries populares e de nicho, novidades e títulos apurados pelos anos e há muito mais diversidade do que, por exemplo, nos Óscares. 

Os Emmys, mais uma cerimónia de prémios num mundo (americano) cheio de entregas de prémios, vão distinguir uma amostra de um momento particularmente elogiado e produtivo da televisão, que definitivamente não vive só nos televisores. “Sim, sim, a televisão nunca foi tão boa. Eu sei. Eu sei!”, confirmava o crítico Glenn Whipp, do LA Times, num texto sobre os Emmys.

Os números valem o que valem, e vamos a eles. A Guerra dos Tronos, que em 2015 se tornou a série que mais Emmys ganhou numa única temporada – 12 -, é este ano o título com mais nomeações – 23, nove já ganhas nos Creative Arts Emmys há uma semana. Está bem longe de A Balada de Nova Iorque, detentora do recorde absoluto, conseguido em 1997, com 27 nomeações num só ano, mas volta a ser candidata à coroa de Melhor Série Dramática com a sexta temporada que se afastou dos livros que lhe deram origem. Compete com Better Call Saul (AMC), Downton Abbey (Fox Life e SIC), Segurança Nacional (Fox), House of Cards (Netflix), mas sobretudo com The Americans (Fox Crime) e Mr. Robot (TV Séries).

“Este ano, The Americans é provavelmente a maior concorrência de A Guerra dos Tronos, porque tem sido longamente ignorado pelos Emmys e porque esta foi a melhor temporada da série”, opina James Hibberd, editor da revista Entertainment Weekly, à Reuters. Desde 2013, a série sobre dois espiões soviéticos infiltrados na vida americana em plena Guerra Fria nunca foi nomeada para melhor série e este ano não só consegue essa nomeação como vê os protagonistas Keri Russell e Matthew Rhys a competir nas categorias de actuação. Contudo, A Guerra dos Tronos e a sua narrativa babélica teve uma das suas temporadas mais populares e alguns dos seus episódios mais cotados em 2016.

A Guerra dos Tronos: Televisão sem misericórdia

Na comédia, Veep é a série mais nomeada (em Portugal passa no TV Séries e compete em 16 categorias) e também está longe da recordista absoluta, Rockefeller 30, com 22 nomeações em 2009. Este ano, “Veep é uma inevitabilidade dos Emmy” - a série satírica sobre a política Selina Meyer e a sua sede de poder numa Casa Branca de absurdo e incompetência “foi melhor que nunca este ano e não tem concorrência à altura”, comentou à Reuters Tom O’Neill, editor do site de previsão de prémios Goldderby.com.

A série da HBO sobreviveu à saída do seu importante criador, Armando Iannucci, e às comparações com a corrida à Casa Branca de uma mulher bem real. Competem ainda a sempiterna Uma Família Muito Moderna (Fox Comedy, com quatro nomeações num total de 77 desde a estreia e 22 vitórias), A Teoria do Big Bang (AXN White, com sete nomeações num total de 46 desde a estreia e oito vitórias) ou Sillicon Valley e Transparent (ambas TV Séries). Master of None, de Aziz Ansari para o Netflix, e Black-ish, ambas comédias do quotidiano mas com um subtexto racial relevante, concorrem também, a par de Unbreakable Kimmy Scmidt (Netflix).

Mas este não é um ano apenas das séries de comédia e de drama, ou de luta entre os títulos dos generalistas, com cerca de 20 episódios, e os do cabo pago, com temporadas mais curtas e focadas. É um ano de mini-séries, de séries limitadas ou de “antologia”. O Caso de O.J. (Fox) e O Gerente da Noite (AMC) são dois fortes candidatos: a tensão racial em torno do verídico julgamento do ex-futebolista O.J. Simpson na década de 1990 e o romance de John Le Carré sobre tráfico de armas e geopolítica, respectivamente, são reforçados por nomeações nas categorias de actuação para Sarah Paulson, Courtney B. Vance e Cuba Gooding Jr., na primeira, e Tom Hiddleston, na segunda. American Crime, Fargo (TV Séries) e Roots completam o rol de um subgénero particularmente competitivo.

Pico televisivo

“A televisão domina a conversa no entretenimento e goza a sua jornada mais espectacular da história”, disse em Julho o presidente da Academia Televisiva, Bruce Rosenblum. E fá-lo não só pela qualidade, mas pela quantidade. Nunca se fez tanta televisão, e chamam-lhe "peak TV". Estamos quase no cume televisivo – ou, como disse em 2014 o presidente dos canais FX, John Landgraf, escala-se até "peak TV". Nunca se produziu tanto nos EUA, que absorvem também produções internacionais de novos e velhos operadores, ao mesmo tempo que países que têm sido sobretudo consumidores, como é o caso de Portugal, tentam investir de forma sistémica na produção de séries – a RTP, por exemplo, tem quatro séries no horário nobre e quer atingir uma média de produção de 12 títulos anuais.

Nos últimos anos, entraram em cena os operadores de streaming (Netflix, Hulu, Amazon), e há mais projectos nos canais de sinal aberto, por subscrição (premium e pacote básico) ou até naqueles cuja vocação inicial não é a da ficção (pense-se em Vikings, do canal História, em Portugal no TV Séries). Na prática, o "peak TV" são 419 séries originais produzidas nos EUA na temporada 2015-16, aquela que agora é analisada pela Academia que atribui os Emmy. Em 2002, eram 182 e, há cinco anos, 266 as novas séries originais no ar. Landgraf prevê que em 2017 serão 500 - um crescendo que antevê que só entre em declínio em 2019, sempre sob o risco de inundar o mercado com as respectivas consequências.

Mas até lá, uma amostra de dimensões inéditas foi analisada pela Academia dos Emmy, em que a HBO continua (94 nomeações) a dominar. Este ano, mais membros votaram, graças à migração para um sistema online, e mais pessoas de todas as cores e géneros foram nomeadas.

O conjunto dos actores nomeados para os 68.º Emmys contrasta com a famosa fotografia-compósito dos candidatos aos Óscares de 2016, os #OscarsSoWhite – pela primeira vez, há não-brancos nomeados em todas as categorias de actuação masculina nos Emmy e as próprias séries vão das origens egípcias de Rami Malek, protagonista, e Sam Esmail, criador, de Mr. Robot, a Ansari e a Alan Yang na criação de Master of None, passando pelo frémito de Empire (Fox) e de Como Defender um Assassino (AXN) e suas protagonistas nomeadas, ou pela comédia de Black-ish.

Há mais séries, e na TV há maior rapidez no desenvolvimento de projectos do que no cinema, e também mais diversidade - embora continue a existir desigualdade atrás das câmaras, com a maior parte dos realizadores ou guionistas a pertencer ao grupo dos homens brancos. Woody Allen, que dia 30 se estreia com a sua primeira série de “televisão”, Crisis in Six Scenes, para a Amazon, diria que “a vida não imita a arte, imita a má televisão”.

A cerimónia, apresentada por Jimmy Kimmel, é transmitida em directo em Portugal pela SIC Caras a partir das 1h da madrugada de domingo para segunda-feira.

Nomeados nas principais categorias (a lista completa pode ser consultada aqui)

Melhor série dramática

The Americans (FX)

Better Call Saul (AMC)

Downton Abbey (PBS)

A Guerra dos Tronos (HBO)

Segurança Nacional (Showtime)

House of Cards (Netflix)

Mr. Robot (USA)

Melhor Comédia

Black-ish (ABC)

Master of None (Netflix)

Uma Família Muito Moderna (ABC)

Silicon Valley (HBO)

Transparent (Amazon)

Unbreakable Kimmy Scmidt (Netflix)

Veep (HBO)

Melhor mini-série

American Crime (ABC)

Fargo (FX)

O Gerente da Noite (AMC)

O Caso de O.J. – American Crime Story (FX)

Roots (History)

Melhor Actor numa série dramática

Kyle Chandler, Bloodline (Netflix)

Rami Malek, Mr. Robot (USA)

Bob Odenkirk, Better Caul Saul (AMC)

Matthew Rhys, The Americans (FX)

Kevin Spacey, House of Cards (Netflix)

Liev Schreiber, Ray Donovan (Showtime)

Melhor Actriz numa série dramática

Claire Danes, Segurança Nacional (Showtime)

Viola Davis, Como Defender um Assassino (ABC)

Taraji P. Henson, Empire (Fox)

Tatiana Maslany, Orphan Black (BBC America)

Keri Russell, The Americans (FX)

Robin Wright, House of Cards (Netflix)

Melhor Actor numa série de comédia

Anthony Anderson, Black-ish (ABC)

Aziz Ansari, Master of None (Netflix)

Will Forte, The Last Man on Earth (Fox)

William H. Macy, Shameless (Showtime)

Thomas Middleditch, Silicon Valley (HBO)

Jeffrey Tambor, Transparent (Amazon)

Melhor Actriz numa série de comédia

Julia Louis-Dreyfus, Veep (HBO)

Laurie Metcalf, Getting On (HBO)

Ellie Kemper, Unbreakable Kimmy Schmidt (Netflix)

Tracee Ellis Ross, Black-ish (ABC)

Amy Schumer, Inside Amy Schumer (Comedy Central)

Lily Tomlin, Grace and Frankie (Netflix)

Melhor Actor num telefilme ou mini-série

Bryan Cranston, All the Way (HBO)

Benedict Cumberbatch, Sherlock (PBS)

Idris Elba, Luther (BBC America)

Cuba Gooding Jr, O Caso de O.J. – American Crime Story (FX)

Tom Hiddleston, O Gerente da Noite (AMC)

Courtney B. Vance, O Caso de O.J. – American Crime Story (FX)

Melhor Actriz num telefilme ou mini-série

Kirsten Dunst, Fargo (FX)

Felicity Huffman, American Crime (ABC)

Audra McDonald, Lady Day at Emerson's Bar and Grill (HBO)

Sarah Paulson, O Caso de O.J. – American Crime Story (FX)

Lili Taylor, American Crime (ABC)

Kerry Washington, Confirmation (HBO)

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