EUA não colaboram com Rússia antes de Assad desbloquear acesso da ajuda

ONU exige ao regime sírio que autorize “imediatamente” passagem de camiões com alimentos para quem morre de fome em Alepo. Distribuições estão previstas na trégua em vigor desde segunda-feira.

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Dois responsáveis sírios num bairro da parte de Alepo controlada pelo regime Youssef Karwashan/AFP

A trégua entre o regime de Bashar al-Assad e os rebeldes que se lhe opõem negociada pelos Estados Unidos e pela Rússia e em vigor desde segunda-feira continua a ser o que de mais próximo a Síria esteve de viver sem guerra em mais de cinco anos. Mas na sexta-feira morreram pela primeira vez três civis, dois deles crianças, num ataque com aviões não identificados numa localidade rebelde da província de Idlib, no Noroeste do país.

Para além dos bombardeamentos em Idlib, houve um raide numa localidade também sob controlo da oposição na província de Alepo. Na periferia de Damasco foram as forças da oposição que terão tentado entrar na capital, uma acção bloqueada pelo Exército leal a Assad depois de violentos combates.

Moscovo acusa os grupos de opositores armados de não estarem a cumprir a trégua, mas propôs que esta fosse renovada por mais 72 horas – nessa altura cumprir-se-ão sete dias desde o início, o prazo estipulado nas negociações para que as forças americanas e russas começassem a coordenar-se e a atacar juntas alvos do Daesh (o auto-intitulado Estado Islâmico), numa cooperação até agora inédita.

Washington não comenta eventuais violações do cessar-fogo por parte da oposição que apoia, mas já avisou a Rússia que “não porá a funcionar nenhum centro de coordenação militar conjunto se os termos do acordo sobre a ajuda humanitária não foram respeitados”.

Pelo menos desde terça-feira que há camiões junto à fronteira turca, já do lado sírio, com alimentos, medicamentos e outros bens essenciais à espera de seguirem para as zonas de Alepo nas mãos da oposição. Na grande e destruída cidade do Norte da Síria, há anos transformada em campo de batalha, há 250 mil pessoas (mais de 100 mil são crianças) a precisarem de tudo.

“Será que os adultos podem parar com os seus bloqueios de estrada burocráticos que impedem os funcionários das ONG e da ONU se fazer o seu trabalho e ajudar civis – mulheres feridas e crianças?”, exclamou Jan Egeland, conselheiro especial do enviado das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura. “O Governo prometeu autorizações para as colunas de viaturas da ONU antes do cessar-fogo… ainda não foram recebidas”, denunciou o próprio Mistura em Genebra. “Isto tem de acontecer imediatamente.”

Horas depois da intervenção do diplomata na Suíça, já à noite, estava prevista em Nova Iorque uma reunião do Conselho de Segurança para discutir o acordo anunciado há uma semana pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov. Quase ao mesmo tempo, o Presidente, Barack Obama, tinha marcada uma reunião da sua equipa de Segurança Nacional para fazer um ponto da situação do acordo.

Forças especiais e bandeiras

Numa guerra cada vez mais complexa e difícil de seguir, apesar do cessar-fogo, forças especiais americanas estiveram durante algumas horas na zona sul da fronteira “a pedido do Governo turco”, junto de rebeldes apoiados por Ancara. Os turcos lançaram no fim de Agosto uma ofensiva para expulsar os jihadistas da sua fronteira e controlar o avanço dos curdos – os principais aliados dos EUA no combate ao Daesh, inimigos declarados para Ancara.

No terreno, há tanques e membros das forças especiais turcos, mas o grosso dos combates são feitos por opositores árabes. Ora, estes combatentes não gostaram de por lá ver americanos e estes foram obrigados a abandonar rapidamente a região, “perto de Jarablus e de Al-Rai”, como se pode ver num vídeo divulgado online pelos opositores.

Noutro incidente, o Governo turco denuncia que os rebeldes das YPG (a maior milícia curda síria) içaram “bandeiras americanas em três pontos na localidade de Tall Abyad, que controlam”. As bandeiras nos edifícios governamentais desta vila na província de Raqqa ( “capital” dos fundamentalistas) são visíveis da Turquia. Não é a primeira vez que as YPG, consideradas uma “organização terrorista” por Ancara, içam bandeiras dos seus aliados, os EUA, no que aparenta ser uma provocação aos turcos.

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