Quando a música é uma arma para vencer o Alzheimer

Projecto #musicasparasempre quer transformar em música os momentos marcantes da vida de pessoas com Alzheimer. A "hashtag" foi lançada na acção de promoção do filme “A Viagem de Meu Pai”

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Gemma Evans/Unsplash

“A pessoa está lá mas não está”. É assim que Camila de Queiroz, filha de Hélio Elpidio, descreve a doença do seu pai: o Alzheimer. Hélio é protagonista não só da sua vida, como do projecto brasileiro #musicasparasempre, que procura, através da música, preservar memórias pelo máximo de tempo possível, como uma forma de ajudar pessoas condenadas a perdê-las.

A ideia do projecto surgiu após a publicação de um estudo do Instituto Max Planck de Neurociência e Cognição Humana. Nele, cientistas alemães constataram que as memórias musicais, além de serem armazenadas numa área exclusiva do cérebro — não se misturam com outras — também se situam numa região menos afectada pela doença.

A partir desse contexto, a campanha #musicasparasempre, lançada na acção de promoção do filme francês “A Viagem de Meu Pai”, quer ajudar famílias, pacientes e músicos voluntários a transformar em canção os momentos marcantes da vida daqueles que enfrentam esse mal. "Se fizermos uma música, especificamente, para a vida da pessoa, ela terá como se fosse um roteiro e vai lembrar-se de coisas que, eventualmente, estaria a esquecer”, sublinha o neurologista Renato Anghinah no vídeo. 

Para compor a canção de Hélio, as suas duas filhas, Camila e Mariana de Queiroz, contaram com a ajuda do músico Lucas Meyer e da cantora Ana Julia Zambianchi, que retrataram na letra a sua alegria de viver e as suas actividades preferidas. Com a música, a família espera incentivá-lo a retomar sentimentos e sensações esquecidos ao decorrer do tempo. A exemplo do que defende o maestro brasileiro, João Carlos Martins, “a música, quando entra na sua memória, é como um quadro colocado na parede — fica na sua memória e nunca mais sai”.

O vídeo foi produzido pela Isobar, em parceria com a Mares Filmes, BossaNovaFilms e a Dahouse Audio, e passa uma mensagem clara, que João Martins aponta como a frase da sua vida: “A música venceu”. No site do projecto já é possível contar uma história para ser musicada ou doar uma canção.

Alzheimer: cura está próxima

A cura para o Alzheimer está cada vez mais próxima. O tratamento pode mesmo descobrir-se nos próximos cinco ou dez anos, revelou esta semana em entrevista à RTP o psiquiatra português Tiago Reis Marques, garantindo: "A nossa será a última geração a ter dessa demência".

A ciência já provou os efeitos positivos do exercício físico para o corpo. Mas agora, ao que tudo indica, actividades como correr ou nadar podem manter a saúde do cérebro e funcionam como um retardador do envelhecimento cerebral. Somado a isso, outro grande aliado é o estudo, sublinha o cientista: “O que nós sabemos hoje em dia que é o maior factor protector do Alzheimer é uma pessoa estudar. Ou seja, é o exercício mental”.   

Considerado em 2015 como o melhor jovem investigador na área da esquizofrenia, Tiago Reis Marques é actualmente investigador e professor no Instituto de Psiquiatria do Kings College, em Londres.

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