Mora, um dos concelhos mais ricos em vestígios megalíticos do país, já tem o seu museu temático

A nova proposta museológica que abre ao público nesta quinta-feira, tem expostas mais de 100 peças megalíticas recolhidas no concelho e cedidas por outros municípios.

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O museu vai funcionar na antiga estação Câmara Municipal de Mora
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Câmara Municipal de Mora

A abertura do novo Museu Interactivo do Megalitismo, que o município de Mora instalou na antiga estação da CP daquela localidade, vai abrir ao público nesta quinta-feira. Durante uma semana, a população do concelho vai poder visitar o espaço museológico sem pagar a entrada “para que nenhum morense possa dizer no futuro que não conhece a nova oferta museológica do concelho”, vincou a autarquia do norte alentejano.

A instalação da nova unidade museológica implicou a remodelação total da antiga estação ferroviária e envolveu um investimento de 2,5 milhões de euros, comparticipado em 85% por fundos comunitários.

O museu megalítico possui um espólio que representa os períodos mais antigos do Neolítico, de há cerca de 6500 anos, altura em que as primeiras comunidades de agricultores se instalaram no interior alentejano e inclui mais de 100 peças megalíticas recolhidas no concelho.

O concelho de Mora já se tornara internacionalmente conhecido neste capítulo há mais de um século, sobretudo através dos trabalhos realizados em centenas de monumentos escavados pelos arqueólogos Virgílio Correia e Manuel Heleno. As suas pesquisas no megalitismo “representaram, para as respectivas áreas de estudo, um manancial de informação manifestamente subaproveitado, sobretudo por se encontrarem, em grande parte, inéditas”, realçou a arqueóloga Leonor Rocha no seu livro As origens do megalitismo funerário alentejano. Revisitando Manuel Heleno.

Os achados arqueológicos efectuados ao longo do século XX nas freguesias do município de Mora têm permitido perceber a riqueza megalítica existente na área do concelho. Este facto faz com que seja já considerado como um dos mais ricos do país nesta área do conhecimento.

Aliás, a região do centro alentejano acolhe um importante acervo de monumentos megalíticos que constituem, em diversos aspectos, “um dos conjuntos mais peculiares, à escala peninsular e mesmo europeia”, assinalam os arqueólogos Manuel Calado e Leonor Rocha, no texto Parque do Megalitismo de Évora: uma utopia alentejana”.  

A sua importância tornou-se muito relevante nas últimas décadas com a identificação de um conjunto de monumentos que são únicos na Península Ibérica, como o Alinhamento e Necrópole do Monte da Têra (Pavia) ou o Cruciforme Megalítico do Alto da Cruz (Brotas). Este último foi alvo de reportagem da revista National Geographic em 2013 por ser caso único.

Foi o enorme valor do acervo arqueológico concentrado em Mora que motivou o município local para proceder à instalação de um Núcleo Museológico do Megalitismo. Luís de Matos, presidente da autarquia adiantava em Dezembro ao PÚBLICO que o espólio “é substancialmente maior do que o existe no Museu Nacional de Arqueologia”.  

O autarca disse ainda que o novo museu, cuja construção foi iniciada em Junho de 2014 - “precisamente no ano em que se assinalaram os 100 anos do início das escavações arqueológicas no concelho de Mora” -, vai expor "um elevado número de peças arqueológicas que se encontram em Lisboa acondicionados em caixotes, privando o público da sua apreciação”.

O novo museu recria em 3D a área envolvente das escavações efectuadas no terreno pelos arqueólogos. As paredes servem de suporte à informação gráfica impressa e todos os espaços têm vitrinas para exposição dos objectos mais emblemáticos, que reportam de há 5000 a 3000 anos a.C., painéis de explicação com textos e imagens e alguns equipamentos multimédia. Uma das inovações será um holograma de um homem das cavernas.

A instalação do núcleo megalítico visa ainda complementar a oferta gerada pelo fluviário de Mora, outro contributo importante para a valorização turística do concelho e inaugurado em 2007. O elevado número de forasteiros num concelho com cerca de 5 mil habitantes tem tido importante impacto económic, sobretudo no sector da restauração e nas 10 unidades hoteleiras que no seu conjunto oferecem 150 camas.

"Mesmo assim, metade das pessoas visita o fluviário e vão-se embora, quando nós queremos que fiquem mais tempo e deixem mais algum dinheiro na nossa terra”, observa o autarca, frisando que o novo museu “vem reforçar o panorama turístico e cultural, tornando o concelho ainda mais atractivo”.

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