Uma pista de skate fluorescente para São Paulo

Koo Jeong A quis instalar na Bienal de São Paulo uma peça capaz de mudar o "ecossistema social" do Parque Ibirapuera. Será demolida em Dezembro, há uma comunidade que está contra.

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Leo Eloy/Estúdio Garagem/ Fundação Bienal de São Paulo
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32BSP_160908_LE_004.jpg Leo Eloy/Estúdio Garagem/ Fundação Bienal de São Paulo
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Vamos à procura de uma cratera luminosa no escuro da noite. Queremos experimentar “o estado de suspensão” prometido aos que contemplam a obra da sul-coreana Koo Jeong A, uma das várias encomendas feitas pela Bienal de São Paulo que esta semana abriu ao público na cidade brasileira. Mas não vislumbramos nada verde fluorescente, parecido com as imagens divulgadas pela organização desta grande exposição que até Dezembro mostra o trabalho de 81 artistas de 33 países.

Avançamos tacteando a relva com os pés pelo Parque Ibirapuera, até começarmos a distinguir alguns vultos à volta de dois círculos que se sobrepõem e interceptam, dando forma à pista de skate em forma de bowl desenhada pela artista.

“Octávio, não está rolando andar sem capacete! Quando você ‘dropa’ [cai] na pista, vai ver que é diferente”, avisa Alcides Costa, da equipa que faz a monotorização da pista de skate das 9h às 22h. “Todos podem usar a obra de arte 'skatável', mas no mínimo tem de ter capacete”, explica, acrescentado que já desistiram das joelheiras e cotoveleiras. "O grupo do skate é meio radical. Mas é o primeiro dia e rolou bastante legal.”

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Arrogação da sul-coreana Koo Jeong A Leo Eloy/Estúdio Garagem/ Fundação Bienal de São Paulo

Quanto à cor supostamente luminosa, a culpa é do sol, uma vez que a pista só dá o que recebe. “O solzão só chegou às 16h40, mas aí já estava se pondo.” Vrrruuum! Vrrruuum! Ouvem-se as rodas da prancha de skate, porque um de cada vez é mesmo a regra do bowl, que começou a ser praticado nos anos 70 nas piscinas da Califórnia. Alcides aponta para os rastos de luz que as rodas provocam ao passar na pista para trás e para a frente. “E viu o que pessoal está a fazer com o celular?” Escrevem tags com a luz do telemóvel, que activa por momentos a fotoluminescência do pigmento misturado no betão. Na véspera da visita do PÚBLICO, para a inauguração, os skaters puseram reflectores e conseguiram que ficasse tudo colorido.

À medida que se vão revezando e chegam cá acima, repetem todos que a pista não pode desaparecer em Dezembro, quando a bienal fechar as portas. “Não pode demolir. Está perfeito”, diz Fábio Stradorski, um estudante de engenharia de 28 anos, que está louco para conhecer o Boom Festival em Portugal, comenta depois de perguntar de onde é a jornalista. “Guardaram a terra toda que tinham tirado e vão voltar a pôr”, porque pode não pode ganhar impermeabilização, explica Tomás Underpop, que também pertence à equipa de vigilância. Já imaginou a pista vista de cima, através de um drone, e tem pena que Koo Jeong A não tenha feito vários bowls, como na pista que fez em França.

A peça construída pela artista sul-coreana no Parque de Ibirapuera é a terceira, depois da de França, em 2012, e de outra em Inglaterra, no ano passado, e intitula-se Arrogação. É a fotoluminescência que dá a este equipamento urbano “um funcionamento vivo”, em articulação com a paisagem onde está inserido, escreve-se no catálogo desta bienal que tem como tema o meio ambiente. “O tempo é um dos elementos centrais na pesquisa da artista. Seja através da luz que evoca diferentes horas do dia, ou do período indeterminado de contemplação, a impermanência da matéria está sempre em jogo.”

No parque, a tribo do skate costuma juntar-se na marquise, o enorme pórtico com 120 colunas desenhado por Oscar Niemeyer que une os equipamentos culturais do Ibirapuera. “São Paulo não tem muitas opções de pistas. As boas, a gente tem de pagar para andar. Só a do Jockey Club é que é pública”, afirma Fábio Nicolosi, um gerente comercial que ao meio-dia estava com toda a família a andar de skate. “Para quem não tem nada está óptimo. Estou ansioso por ver acender à noite. A única coisa triste é que depois de Dezembro vai ser destruída. E nas outras partes do mundo as obras da sul-coreana não foram destruídas. O pessoal quer brigar para mantê-la.” E é uma obra de arte? “Toda a pista de skate neste contexto do concreto, entendo como uma obra de arte. Todos os bowls são obras de arte.”

Wesley Félix Figueiredo quer dormir na pista, quando chegar Dezembro, para impedir a sua demolição. Feirante, 25 anos, acha que o problema é outro. A zona à volta do Parque Ibirapuera “é de rico” e “dizem que skate assimila a marginalidade”. Uma das intenções da artista, segundo o catálogo, é exactamente rearticular “o ecossistema social do Ibirapuera, criando um novo espaço para o grupo dos skatistas que frequentemente ocupam a marquise próxima do Pavilhão da Bienal”.

Jonche Volz, o curador principal da Bienal de São, diz que, por enquanto, o que está planeado é que feche a 11 de Dezembro. “Porque este é um parque tombado”, ou seja, é património classificado e por isso está protegido por lei. “Esse é todo outro processo que não pertence ao contexto de uma bienal. Nós só temos autorização para três meses.”

A nova pista está situada, como aponta Volz, na principal entrada do parque para a marquise. Que haja já quem defenda a sua manutenção é normal, porque a função da arte é “gerar questões”.

O PÚBLICO viajou a convite da Fundação Bienal de São Paulo

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