Johnson garante que o "Dia Alepo" lhe trouxe dinheiro e atenção

O candidato do Partido Libertário à Casa Branca diz que a gaffe relativa ao desconhecimento de uma das cidades sírias mais fustigadas pela crise humanitária pode ser "um evento crucial" para a sua vitória.

Foto
Gary Johnson depois da gafe: “Estou incrivelmente frustrado comigo” Bryan R. Smith/AFP

Depois de ter passado os últimos dias a tentar justificar o injustificável, o candidato do Partido Libertário à presidência dos Estados Unidos parece estar agora apostado em ver o lado positivo daquilo que o próprio designa já por “Dia Alepo”. “Aumentou a angariação de fundos, aumentou a atenção”, afirma Gary Johnson, que numa entrevista televisiva respondeu “O que é Alepo?” quando lhe perguntaram o que faria em relação à cidade síria caso fosse eleito.

Depois desse episódio, muitos críticos vieram a público dizer que o candidato, que ambiciona trazer para o seu lado todos aqueles que estão descontentes com Donald Trump e com Hillary Clinton, tinha acabado de se desqualificar da corrida à Casa Branca.

A própria candidata do Partido Democrata já se riu à conta do seu opositor. Como conta o New York Times, quando os jornalistas lhe fizeram perguntas sobre a falta de conhecimento sobre Alepo revelada por Gary Johnson, Hillary Clinton brincou com a situação, dizendo que se se olhasse para um mapa era possível encontrar a cidade síria.

Nas primeiras intervenções depois da entrevista que já correu o mundo, o candidato do Partido Libertário justificou-se dizendo que não reconheceu o nome da cidade (fustigada por uma grave crise humanitária), porque estava “a pensar num acrónimo”. “Estou incrivelmente frustrado comigo”, disse depois, acrescentando que era “humano” e que caso fosse eleito Presidente iria rodear-se de especialistas e receber briefings diários em matérias de segurança, para preencher quaisquer falhas no seu conhecimento.

Alepo é Omran multiplicado por milhares

Mas o discurso de Gary Johnson parece ter mudado entretanto: em declarações citadas pelo The Guardian este domingo (e que foram proferidas na véspera, à entrada para um comício em Nova Iorque), o antigo governador do Novo México defende que o “Dia Alepo” deve ser visto como algo positivo. “Aumentou a angariação de fundos, aumentou a atenção”, afirma, acrescentando que “potencialmente, este pode ser um evento crucial no contributo para uma vitória nas eleições”.

Por enquanto não é possível saber que impacto teve a gafe do candidato do Partido Libertário junto dos eleitores. Certo é que as próximas sondagens serão decisivas, tendo em conta que apenas conquistará um lugar nos debates televisivos (onde Donald Trump e Hillary Clinton têm já presença assegurada) se tiver uma média de 15% das intenções de voto.

A participação nesses debates tem sido uma das grandes batalhas de Johnson, que os vê como uma oportunidade para demonstrar aos norte-americanos que ele e William Weld (o seu candidato à vice-presidência) representam uma alternativa viável para os eleitores que não estão contentes com os candidatos dos dois maiores partidos.

Como lembra o The Guardian, a última vez que um terceiro candidato à Casa Branca participou nesses debates foi em 1992. O feito foi conseguido por Ross Perot, que concorria como independente e que chegou a liderar as sondagens mas acabou por perder as eleições para Bill Clinton.

Além da gaffe de Gary Johnson, houve uma outra (na verdade duas) que marcou o caso: ao noticiar o sucedido o The New York Times começou por se referir a Alepo como a “capital” do Estado Islâmico. Essa informação foi depois corrigida, numa nota em que se dizia que a “capital” do movimento não era essa mas sim Raqqa, enquanto Alepo era a capital da Síria. Seguiu-se uma nova correcção, desta feita para esclarecer que a capital da Síria era Damasco e não Alepo.

Editorial: “O que é Alepo?”, pergunta Johnson

Sugerir correcção
Ler 6 comentários