Excesso de velocidade pode ter estado na origem do descarrilamento

Comboio ter-se-á aproximado da estação a mais de 100 km/hora quando devia ter abrandado para os 30 km/hora devido a um desvio de linha motivado por obras na via principal.

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Não está para já excluída a possibilidade de uma avaria na agulha ou de uma falha na própria automotora Nelson Garrido

A velocidade excessiva, numa altura em que se realizavam obras nas linhas da estação de O Porriño, sendo necessário desviar o comboio para uma via alternativa, terá provocado o descarrilamento do Celta, que fazia a ligação Vigo-Porto, na manhã desta sexta-feira, na Galiza, apurou o PÚBLICO.

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A existência de obras na linha principal da estação obrigou ao desvio do comboio para a linha três. O desvio foi invulgar na rotina diária dos maquinistas que passam com o comboio Celta naquela estação. Aliás, o comboio costuma passar pelo Porrinho a 130 km/h, mas na manhã desta sexta-feira, face às obras e ao desvio, o Celta deveria ter entrado naquela estação a 30 km/hora. Só assim, nestas circunstâncias de circulação condicionada, poderia ter cruzado as agulhas da linha em segurança, atravessar a estação por uma linha de alternativa e voltando depois à principal, prosseguindo entretanto a sua marcha normal. 

Porém, o comboio aproximou-se da estação a mais de 100 km/hora e descarrilou ao passar por uma agulha de mudança de linha embatendo depois violentamente na ponte rodoviária que passa por cima da via-férrea. Deteve-se finalmente quando embateu num poste de alta tensão. O PÚBLICO questionou a CP, mas a empresa não comentou esta informação. Remeteu para o comunicado que enviou.

Não está para já excluída a possibilidade de uma avaria na agulha ou de uma falha na própria automotora, mas tudo indica que terá sido o excesso de velocidade a provocar o descarrilamento. Na investigação ao acidente também se verificará se os sinais funcionaram, sendo certo que quando a agulha é direccionada para uma determinada linha, a sinalização está sincronizada de modo a adaptar a velocidade ao percurso estabelecido.

Em situações como esta, antes de chegar a uma estação os maquinistas recebem a informação através do sistema ASFA (Anúncio de Sinais e Freio Automático) de que a via não está livre e de que o próximo sinal está amarelo. Devem reagir em menos de três segundos, premindo uma tecla senão o comboio pára automaticamente. Neste caso, o facto de não ter havido uma havido paragem de emergência significa que o aviso foi recepcionado. Mas algo terá falhado a seguir porque a composição terá entrado na agulha da linha três com excesso de velocidade.

Como é que o acidente poderia ter sido evitado?

Um sistema de controlo de velocidade mais moderno do que aquele que equipava esta composição teria impedido que esta se aproximasse da agulha de mudança de direcção com uma velocidade superior à permitida. Bastaria algo idêntico ao sistema português Convel, através do qual o comboio, independentemente da vontade de quem o conduz, é obrigado a circular cumprindo certas regras até aos sinais seguintes e até que a via volte a ficar livre. Curiosamente o Convel também equipava esta composição, mas só funciona no troço Nine-Porto.

O serviço do Celta é feito por maquinistas portugueses e espanhóis que têm de estar habilitados a conduzir este tipo de material circulante (automotoras 592) e têm de conhecer o tipo de sinalização usado na ferrovia dos dois lados da fronteira e ainda como funcionam os sistemas ASFA e Convel (controlo automático de velocidade). Estes profissionais também frequentaram acções de formação, a que se seguiram várias viagens de acompanhamento na cabine para conhecerem o caminho e memorizarem as características da linha.

Sistemas de Segurança entre Vigo e Porto

Entre o Porto e Vigo, o Celta percorre uma linha de 175 quilómetros na qual a segurança da circulação ferroviária é assegurada por três sistemas diferentes: um espanhol e dois portugueses.

Entre Vigo e a fronteira portuguesa (45 quilómetros) o ASFA assinala ao maquinista a posição dos próximos sinais ao longo da linha. Ao passar por um sinal que não esteja em via livre (sem ser verde), além de emitir um sinal sonoro, acende também uma luz e o maquinista tem três segundos para premir um botão, caso contrário o comboio efectua paragem de emergência. Ao premir o botão o maquinista indica que compreendeu o estado da sinalização, mas a partir daí a condução continua por sua conta – se não respeitar os sinais, o comboio não pára automaticamente. A automotora acidentada estava equipada com uma ASFA analógico, mas existe o ASFA digital no qual o comboio faz frenagem de emergência se o maquinista não respeitar os sinais e for com excesso de velocidade.

Entre Valença e Nine (91 quilómetros), o percurso tem menos sistemas de segurança activos. Toda a circulação depende de meios humanos: os agentes nas estações pedem avanço à estação seguinte para o comboio avançar, devendo fazer a gestão dos cruzamentos quando eles são necessários (a linha é de via única). O maquinista não tem nenhum sistema automático de ajuda à condução e obedece aos sinais nas estações.

Nos restantes 39 quilómetros até ao Porto existem mais sistemas de segurança activos. O Convel é um sistema de controlo de velocidade superior ao ASFA analógico (e similar ao ASFA digital) usado entre Tuy e Vigo. Face a alguma falha do maquinista, o comboio pára automaticamente.

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