“Só a verdade prestigia as instituições”, diz Marcelo sobre caso dos comandos

Presidente, ministro da Defesa e chefes militares visitaram soldados internados após treino fatal para um jovem militar. De madrugada, Marcelo esteve com a família do soldado que se encontra em estado crítico

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O Presidente na visita que fez em Maio ao Comando das Forças Terrestres do Exército, na Amadora DR

O Presidente da República declarou nesta sexta-feira “pleno apoio” à abertura de um inquérito e à suspensão dos próximos cursos dos Comandos do Exército, na sequência do treino de domingo que foi fatal para um jovem militar e obrigou vários outros a receberem tratamento hospitalar. "Só a verdade prestigia as instituições”, disse o Presidente no final da visita que efectuou aos dois militares ainda internados no Hospital das Forças Armadas, em Lisboa, onde garantiu que os resultados do inquérito serão públicos.

Foi a segunda visita que Marcelo Rebelo de Sousa fez aos soldados internados em menos de 24 horas. Na noite de quinta-feira, o Presidente fez questão de ir ao aeroporto de Lisboa buscar Azeredo Lopes, que chegava de Londres, para irem directamente ao Hospital Curry Cabral, onde está internado um terceiro militar, aquele que se encontra em estado crítico e cujo prognóstico é agora reservado. Ali se juntaram ao chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte, e à família do jovem, com quem estiveram a conversar durante algum tempo.

O soldado Dylan Araújo da Silva, de 20 anos, está ligado às máquinas e foi colocado na lista urgente para transplante hepático, na sequência do primeiro dia de treino do curso de Comandos do Exército, em Alcochete, onde morreu um outro militar devido a um golpe de calor (insolação). Segundo o porta-voz do Exército, o soldado "mantém comprometimento da função hepática”.

O estado de Dylan Silva ter-se-á agravado nas últimas horas: aos problemas hepáticos que já obrigavam a um transplante de fígado estarão a juntar-se complicações noutros órgãos. Além deste militar internado no Hospital Curry Cabral, outros dois estão no Hospital das Forças Armadas, também em Lisboa, mas a sua situação clínica é estável. Neste hospital estavam ainda internados mais dois militares que frequentavam o curso mas que entretanto tiveram alta, segundo uma nota do Exército hoje divulgada.

“Pleno apoio” às decisões

No final da visita desta sexta-feira, Marcelo rejeitou ter tido interferência nas decisões de abrir um inquérito interno aos acontecimentos e de suspender os futuros cursos dos Comandos até à clarificação do que aconteceu. “Quem tem poder para decidir sobre essa matéria é o senhor general chefe do Estado-Maior do Exército, que naturalmente não toma uma decisão dessas sem partilhar o ponto de vista com o ministro da Defesa Nacional", afirmou o Presidente aos jornalistas

"O senhor ministro da Defesa Nacional foi permanentemente informando o Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, mas quem tinha poder para decidir decidiu, e bem. Há o pleno apoio do Comandante Supremo das Forças Armadas às duas decisões tomadas: à primeira decisão, a da abertura de um inquérito, e à segunda decisão, relativamente [à suspensão dos] aos cursos", acrescentou.

Marcelo rejeitou também que este caso atinja o prestígio das Forças Armadas. “Eu digo que não há desprestígio para as Forças Armadas porque, perante um problema que surge, houve a coragem de enfrentar esse problema abrindo um inquérito para apurar o que se passou, e apurar toda a verdade sem qualquer limitação. E, depois, tomar a decisão cautelar de, por um lado, apurar o estado físico de todos os elementos do curso e, por outro lado, não avançar para outros cursos antes de saber exactamente o que se passou nesta circunstância", argumentou. Por isso, considera ser “prematuro formular juízos negativos sobre uma instituição que tem servido bem o país”.

Dando conta de que não “houve evolução alguma” no estado de saúde dos militares desde a noite de quinta-feira, Marcelo acrescentou ter a percepção de que os dois soldados internados no Hospital das Forças Armadas “prezam e respeitam o que são as Forças Armadas portuguesas” e que “nenhum deles fez qualquer tipo de comentário negativo relativamente à instituição”.

Agenda alterada

Nesta sexta-feira, dia em que cumpre seis meses de mandato, Marcelo Rebelo de Sousa alterou a sua agenda por causa deste caso. O encontro com os representantes das Comunidades Religiosas presentes em Portugal, marcado para meio da tarde, foi reduzido no tempo e na forma. Em vez de um encontro na varanda do Palácio de Belém onde se esperavam declarações sobre estes seis meses — Marcelo queria evocar o encontro na mesquita de Lisboa no dia da tomada de posse —, tudo se resumiu a uma fotografia rápida e a um encontro discreto de cerca de meia hora.

O ministro da Defesa Nacional foi ter a Belém com o Presidente e dali seguiram juntos para uma visita aos outros dois militares ainda internados no Hospital das Forças Armadas, em Lisboa, e cuja situação clínica é estável. Nesta vista, ambos estiveram acompanhados pelo CEME e pelo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.

Na sequência desta série de baixas entre alunos do 127.º curso de Comandos, que tiveram lugar no primeiro dia de treinos e debaixo de uma temperatura de 40,7 graus centígrados, o Exército suspendeu o curso que ainda decorre para avaliação clínica dos restantes instruendos e suspendeu igualmente a abertura de novos cursos até que haja resultados da inspecção técnica extraordinária entretanto aberta à forma como os candidatos são seleccionados e decorrem as provas de formação.

Além do inquérito instaurado pelo chefe do Estado-Maior do Exército na sequência da morte do militar no domingo, também a Procuradoria-Geral da República e a Provedoria de Justiça estão a investigar os casos. Segundo o ministro da Defesa, houve "circunstâncias absolutamente excepcionais" no domingo.

 

 

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