Grupo peruano Medifarma comprou a portuguesa Atral

Farmacêutica fundada há mais de meio século integrava o grupo Atralcipan e está agora nas mãos da Medifarma. Empresa peruana tem fábricas no Brasil e no Uruguai.

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Ligação da Atralcipan ao Peru remonta a 1965. Atral especializou-se em antibióticos e penicilinas Maria João Gala

A Atral, do grupo químico-farmacêutico Atralcipan e uma das dez maiores exportadoras do sector em Portugal, está agora nas mãos da peruana Medifarma. Este grupo, fundado em 1975 e sedeado em Lima, tem vindo a crescer na América Latina, onde detém fábricas no Brasil (São Paulo) e no Uruguai (Montevideu). Com a aquisição da Atral, concretizada em Junho, junta ao seu portefólio uma empresa especializada na área das penicilinas e antibióticos.

As ligações da AtralCipan ao Peru remontam a 1965 quando o fundador, o comendador Sebastião Alves, criou com parceiros locais os laboratórios Atral del Peru. Hoje o grupo português tem uma filial naquele país, a Pharbal.

Não foi possível apurar o valor do negócio e desconhecem-se, por enquanto, os planos da empresa peruana, liderada pelo empresário Francisco Xavier Picasso Candamo - o PÚBLICO tentou, sem sucesso, ouvir a administração da Atral. É o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira (onde a Atral tem sede) quem acaba por dar algumas pistas, nomeadamente a de que a Medifarma quer investir na modernização da farmacêutica portuguesa.

Fundada há mais de meio século por Sebastião Alves, a Atral produzia e comercializava medicamentos e comprava muitas das substâncias activas (a matéria prima dos medicamentos) de que necessitava à Cipan, a outra “perna” do grupo AtralCipan que o IMS, organismo que faz análises de mercado do sector farmacêutico, coloca em 32º lugar no ranking de relevância do mercado português. O negócio que agora é conhecido deixa intacta a Cipan, que surgiu em 1965 como Companhia Industrial Produtora de Antibióticos e se dedica à produção de substâncias activas não só para a casa mãe (a Atral), como para outras empresas do sector. 

Com uma longa e conturbada história no competitivo sector farmacêutico, a Atral chegou em 2012 a assumir as dificuldades financeiras, avançando com um despedimento colectivo que abrangeu 60 trabalhadores. De acordo com os dados recolhidos pelo PÚBLICO, o ano de 2015 fechou com um volume de negócios superior a 22 milhões de euros e um crescimento de quase 200% dos resultados líquidos, para cerca de 700 mil euros.

O grupo Medifarma reuniu, recentemente, com o presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita, no âmbito de uma visita à empresa portuguesa. De acordo com o autarca, a administradora da Atral, Teresa Alves (filha de Sebastião Alves), foi mantendo a autarquia ao corrente das negociações e a conversa com o responsável da multinacional do Peru foi muito positiva. “O que me foi dito é que a Atral vai continuar a sua actividade em Portugal, em moldes renovados, na medida em que a própria Atral precisa de ser modernizada, em termos do que é hoje a indústria farmacêutica muito ligada aos antibióticos. E foi-me dito que isso ia permitir, por um lado, manter os postos de trabalho - que é a minha preocupação maior - e por outro, reforçar no futuro o número de postos de trabalho”, disse Alberto Mesquita, em declarações ao PÚBLICO.

De acordo com o autarca socialista, para além da modernização, poderá mesmo estar em causa uma ampliação das instalações industriais da Atral na Vala do Carregado. “Fiquei bastante satisfeito e estou convicto que estas intenções de investimento no concelho podem ser muito importantes para ultrapassar alguma letargia e estagnação industrial que havia relativamente à Atral. É uma questão que fica resolvida e com uma boa solução”, prevê.

Sindicato preocupado

João Silveira, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente (SITE), confirmou ao PÚBLICO que os trabalhadores da Atral estavam a par do processo negocial para a integração da empresa no grupo peruano, mas que não há, até ao momento, informação sobre as intenções da Medifarma relativamente ao futuro da indústria portuguesa. “Há cerca de mês e meio, a Atral foi visitada por elementos desse grupo e os trabalhadores sabem que estava a decorrer uma negociação para a sua integração”, explicou João Silveira, frisando que a informação que circula na empresa é a que o negócio já estará concretizado. “Sobre o futuro, não temos indicação nenhuma. Vamos mandar um e-mail à administração da Atral a solicitar esclarecimentos”, acrescentou.

Para João Silveira, este é mais um caso de uma empresa nacional vendida a grupos estrangeiros. Isso leva a que o sindicato fique expectante relativamente ao futuro próximo da Atral e dos seus cerca de 120 trabalhadores. “A nossa preocupação é que a empresa perdure e continue a contribuir para o emprego e para a economia da região e do país e que não seja mais um dos casos de empresas” que, após a venda, “são liquidadas no futuro”, sustenta o dirigente.

 

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