A arte de rua não é “pobre” — e este festival vai prová-lo

De 16 a 18 de Setembro, Lisboa recebe acolhe o Chapéus na Rua - Lisbon Busking Festival, dedicado à arte de rua. No final de cada espectáculo, há um chapéu que passa pela assistência

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O festival Chapéus na Rua - Lisbon Busking Festival decorre pela primeira vez, entre 16 e 18 de Setembro, para mostrar a "qualidade dos artistas portugueses" e provar que a arte de rua "não é uma arte pobre".

A edição zero do festival decorre em Lisboa com actividades que se espalham entre o Largo do Intendente, o Chapitô e os mercados de Arroios e 31 de Janeiro. Um dos organizadores, Tiago Fonseca, explicou à Lusa que "a arte de rua em Lisboa ainda é considerada como uma arte muito pobre", pelo que o objectivo deste festival passa por "limpar um bocado esse pensamento que as pessoas têm da arte de rua" e "trazer a qualidade dos artistas portugueses".

Contando com 15 companhias, e um total de mais de 20 artistas, o festival Chapéus na Rua contará apenas com talentos nacionais, que se dividem entre "bandas, malabaristas, estátuas vivas, marionetas, dança e performance", assim como "espectáculos de poesia improvisada, acrobatas, palhaços, mímica e teatro".

A abertura do festival está marcada para o dia 16 de Setembro, no Largo do Intendente, com uma mostra "do que os artistas vão apresentar no sábado e no domingo". O dia 17, sábado, contará com actuações de circo nos mercados, conferências, espectáculos de rua e "workshops", e o encerramento do festival decorrerá no Chapitô, na noite de 18 de Setembro. "Tentámos que o ano zero tivesse artistas portugueses, porque é importante as pessoas verem o que a arte nacional tem", afirmou Tiago Fonseca à Lusa, apontando a possibilidade de realização de um festival internacional para edições mais tardias, que poderão decorrer anualmente ou de dois em dois anos. "Vai tudo depender de como esta edição corre", sublinhou.

Artista dos malabares e também palhaço, Tiago Fonseca está a organizar o certame juntamente com Rita Sarzedas, arquitecta. Depois de viverem 15 anos em Inglaterra, foi de lá que importaram o conceito do "busking", que passa pelos artistas fazerem espectáculos na rua e "receberem doações directamente do público, como resultado das suas actuações, passando um chapéu pela assistência", explicaram os organizadores. "Assim, os 'performers' terão de cativar e fascinar a audiência para garantir um bom chapéu. A entrada é livre e a contribuição no chapéu é opcional", acrescentaram.

Tiago Fonseca explicou que, "como a organização não vai pagar nada aos artistas, tem de conseguir garantir que eles tenham bons chapéus", porém, na sua opinião, "o povo português não tem ainda a cultura de doar nos chapéus, porque as pessoas não sabem muito bem o que doar". "As pessoas também têm de perceber que nós trazemos artistas que têm mais de dez anos de trabalho na rua, em sítios fechados, e a trabalhar em teatros", sublinhou, acrescentando também que "há muita dificuldade de haver algum dinheiro para uma evolução da cultura" em Portugal.

A solução, apontou, passa então por "bom espírito de entreajuda" e, neste caso, por uma campanha de angariação de fundos através da internet. Com um objectivo de duas mil libras (aproximadamente 2.358 euros), a organização conseguiu angariar mais de metade do valor, que será destinado ao "alojamento e alimentação dos artistas, toda a produção de 'posters' e 'flyers', e para algum 'merchandising', como azulejos ou camisolas com o logo" do festival.

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