"São Jorge", o nosso filme sobre a crise estreia em Veneza

Marco Martins fez "um documentário mascarado de ficção", a partir de muita pesquisa sobre pugilismo, clubes de boxe e os efeitos da crise económica no país, do ponto de vista social

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São Jorge centra-se na história de um boxeur, desempregado, que aceita um emprego numa empresa de cobranças DR

O realizador Marco Martins fará a estreia mundial do filme "São Jorge", esta quinta-feira, no festival de Cinema de Veneza, um dos lugares que considera importantes para a sobrevivência do cinema fora de Portugal. O festival de Cinema de Veneza, em Itália, começa esta quarta-feira e contará com a estreia de "São Jorge", amanhã, quinta-feira, na abertura da secção competitiva "Orizzonti", dedicada às "novas tendências do cinema mundial". Em "São Jorge", o actor Nuno Lopes é um pugilista, desempregado de longa data, que aceita trabalhar numa empresa de cobranças difíceis, para pagar as suas próprias dívidas.

Em entrevista à Lusa, Marco Martins contou que a presença em festivais internacionais se tornou "absolutamente fundamental para a vida dos filmes portugueses, porque o universo dos espectadores e o universo de salas em Portugal é cada vez mais reduzido". Este é o ano em que, só para citar dois exemplos, Leonor Teles conquistou o Urso de Ouro em Berlim, com a curta-metragem "Balada de um batráquio", e João Pedro Rodrigues foi eleito o melhor realizador do festival de Locarno, com "O ornitólogo". Em 2014, Pedro Costa conquistou aquele prémio em Locarno, com "Cavalo Dinheiro", e, em 2012, João Salaviza arrecadou o Urso de Ouro com a curta "Rafa".

"Para o filme ter uma vida e ser visto, tem de ser visto fora de Portugal, tem de ter uma vida que transcenda as salas portuguesas. E isso só pode acontecer através da exibição em festivais, onde estão distribuidores e exibidores internacionais que podem agarrar no filme e fazer isso", opinou Marco Martins.

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Depois de Alice, uma parceria entre o realizador e o actor Nuno Lopes DR

Estreia marcada para Novembro

O realizador lamentou a "grande dificuldade de comunicação" do cinema português, "de encontrar o seu público". "Ele existe, mas é muito difícil chegar até ele", disse. Quanto a "São Jorge", Marco Martins explicou que quis fazer "um documentário mascarado de ficção", a partir de muita pesquisa sobre pugilismo, clubes de boxe e os efeitos da crise económica no país, do ponto de vista social.

"Quando há uma grande crise, às vezes não há um rosto dessa crise. Havia um bocado a procura desse rosto, dessas pessoas que estavam a viver essa crise", disse o realizador. Coproduzido entre Portugal e França, "São Jorge" foi rodado nos bairros da Bela Vista (Setúbal) e Jamaica (Seixal), com actores profissionais e não profissionais e, apesar de ser "muito documental em certos momentos", é também quase "um policial negro", feito a quatro mãos entre o realizador e o escritor Ricardo Adolfo.

"São Jorge" tem a estreia mundial no festival de Veneza e foi escolhido para a abertura da secção "Orizzonti", uma visibilidade que já lhe garantiu a compra para exibição internacional por uma distribuidora francesa. Em Portugal deverá estrear-se em Novembro. "São Jorge" é a terceira longa-metragem de ficção de Marco Martins, depois de "Alice" (2005), também protagonizada por Nuno Lopes, e "Como desenhar um círculo perfeito" (2009), ambos premiados.

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